Depressões (Niederungen), publicado em 1982, é a obra de estreia de Herta Muller, romena de língua alemã hoje radicada em Berlim. O cenário destas histórias é o Banat, região limítrofe da Romênia com a Hungria e a Sérvia, onde se estabeleceram colonos alemães desde fins do século XVII.
Uma jovem narra uma crônica de aldeia: a vida cotidiana de sua família, numa comunidade fechada que parece viver nos confins da Segunda Guerra Mundial até os anos 1980, quando o país vivia dentro dos parâmetros do socialismo, com cooperativas estatais de produção voltadas para o cultivo de milho e a criação de gado.
A atmosfera social é caracterizada pela ausência de amor, de alegria e de esperança. As crianças são educadas por meio de constante repressão e bofetadas. O convívio entre pai e mãe é tenso e rude. Ele costuma se embriagar, a espanca e a trai com outra mulher. Ela se refugia no choro. Os indivíduos e a coletividade em volta passam seus dias na rotina. Viver para eles é envelhecer, adoecer e esperar a morte. A percepção desse cotidiano desiludido é de uma concretude e precisão que lembram o estilo de Kafka.
Depressões não foi escrito para quem procura consolo ou palavras edificantes. Este livro escancara um cotidiano vazio e sempre igual, que os nossos programas midiáticos de diversão fazem de conta que não existe.
Texto de Willi Bolle
Professor de literatura alemã da
Universidade de São Paulo
Uma jovem narra uma crônica de aldeia: a vida cotidiana de sua família, numa comunidade fechada que parece viver nos confins da Segunda Guerra Mundial até os anos 1980, quando o país vivia dentro dos parâmetros do socialismo, com cooperativas estatais de produção voltadas para o cultivo de milho e a criação de gado.
A atmosfera social é caracterizada pela ausência de amor, de alegria e de esperança. As crianças são educadas por meio de constante repressão e bofetadas. O convívio entre pai e mãe é tenso e rude. Ele costuma se embriagar, a espanca e a trai com outra mulher. Ela se refugia no choro. Os indivíduos e a coletividade em volta passam seus dias na rotina. Viver para eles é envelhecer, adoecer e esperar a morte. A percepção desse cotidiano desiludido é de uma concretude e precisão que lembram o estilo de Kafka.
Depressões não foi escrito para quem procura consolo ou palavras edificantes. Este livro escancara um cotidiano vazio e sempre igual, que os nossos programas midiáticos de diversão fazem de conta que não existe.
Texto de Willi Bolle
Professor de literatura alemã da
Universidade de São Paulo