A Coleção Mar de Histórias: antologia do conto mundial é composta por 10 volumes independentes que contém, nada menos, que 239 contos, de 192 autores escolhidos entre os melhores de 41 países. A expressão Mar de Histórias foi tirada do título, em sânscrito, Kathâsaritsâgara, de uma antiga coletânea da Índia, do século XI. A sua tradução significa isso mesmo: ?mar formado pelos rios de histórias?. A obra foi organizada há mais de quarenta anos por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai, dois dos maiores tradutores e estudiosos da Literatura Mundial em todos os tempos e gêneros.
Eis o segundo volume de Mar de histórias, antologia monumental do conto apresentado em seus espécimes mais significativos traduzidos por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai. Numa colaboração iniciada há mais de quarenta anos, eles criaram esta coletânea que reflete a evolução de um gênero literário universal, de uma vitalidade e variedade inesgotáveis.
O primeiro volume acompanhava esse gênero multifacetado desde sua origem até o fim da idade média; este segundo volume apresenta-o durante um período de três séculos, em que assume feições mais definidas, até chegar ao despontar do romantismo.
Vemo-lo florescer na Itália, sob a influência duradoura do Decameron, como passatempo das pequenas cortes principescas, jocosamente assinado por uma plêiade de respeitáveis fidalgos e clérigos, entre eles Firenzuola, Bandello e Straparola, e do famoso Niccolo Machiavelli, autor de O príncipe.
De lá, passa à França, perpetuando a mesma tradição folgazã nas mãos de Bonaventure des Periers, autor de Novas recreações ou colóquios alegres, e nas da rainha Marguerite de Navarra, no seu Heptameron, de glosar intimidades escandalosas da alta sociedade; depois, toma feição moralizadora nos escritos de Charles Sorel e ? pasmem! ? do marquês de Sade, contemporâneos do bonachão Charles Perrault, cujos contos, narrados aos meninos pela Mamãe Gansa, às vezes fariam empalidecer as manchetes mais sangrentas dos nossos jornais.
Na Espanha, o conto faz-se crítico da sociedade nas imortais novelas, pretensamente ?exemplares?, de Cervantes, e nos Sonhos satírico-burlescos de Quevedo. Em Portugal, desce até o povo nas histórias de Trancoso e abastece de exemplos as homilias do padre Manuel Bernardes. Contribui para a sobrevivência do latim em coletâneas engraçadas de eruditos, como o ciceroniano Melander nos seus Joco-Seria. Ao mesmo tempo, põe ao serviço de sua expansão número cada vez maior de línguas vernaculares e infiltra-se em obras supostamente informativas, como a História política do Diabo, do foliculário Daniel Defoe. Chega à depuração máxima da ironia cortante dos ?romances? de Voltaire e na sombria dramaticidade das novelas de Kleist. Como o alemão Hebel e o norte-americano Washington Irving, vai buscar seus assuntos nas tradições locais e no tesouro atemporal de contos populares. De volta à França, surpreende-nos com esse esplêndido produto da sensibilidade préromântica a história de ?O leproso da cidade de Aosta?, de Xavier de Maistre.
O volume não se limita às letras ocidentais. Das orientais, o Livro do papagaio inspira aos tradutores a naturalização da macama, saborosa mistura de prosa e verso; e uma leitura das narrativas do chinês Pu-Sung-Ling permite-lhes trazer à tona duas belas páginas de misticismo amoroso.
Tantas obras-primas, até agora de difícil acesso, traduzidas para nossa língua com requinte de fidelidade, configuram o que há de melhor na literatura de diversos povos e da história do conto como gênero literário.