Dois, meia, meia (Profissão: escritor, crítico, redator)
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Ninguém discorda que os versos românticos de Shakespeare em Romeu e Julieta estão entre os mais belos da literatura. Mas ontem à noite, revendo “Shakespeare Apaixonado” na tevê, me peguei pensando: que história mais estúpida! Só mesmo o equilíbrio da maturidade pra acabar de vez com esse tipo de ilusão romântica extremista, que sempre acaba mal. Não vou negar que já curti demais as múltiplas versões dessa trama, de filme moderno a balé, passando na vida real por uma meia dúzia de grandes paixões. Mas acho hoje em dia que esse negócio de morrer de amor é imaturo, precipitado, irrefletido demais. O próprio texto mostra isso e Julieta, ao acordar e descobrir a situação irreversível em que se encontrava, deve ter crescido de uma hora pra outra e pensado: Deus! Como fui idiota ouvindo aquele padre! Deveria ter mandado a família à merda e fugido de casa com meu namoradinho! Será que Shakespeare, anos depois, com a moderação discreta que acompanha a idade, olhou pra trás e rejeitou a mais popular de suas obras? Resistiu ao impulso de reescrever tudinho, dar um fim mais esperançoso, edificante?