Resolvi fazer este livro ao saber que posso manter vivos pessoas e fatos, pelo menos nestas páginas, já que é impossível na realidade.
Falarei do velho casarão centenário do São Félix, que outrora era um dos engenhos que dominavam a região na época açucareira. Não é à-toa então, que ao visitá-lo sinto uma profunda emoção, quando chego a uma de suas inúmeras janelas e fico contemplando a paisagem, imaginando quantos dos meus antepassados fizeram este gesto em diferentes épocas e situações. O engenho ainda está inteiro, firme, e sua chaminé teima contra o tempo em manter-se em sua posição de guarda e que a tudo vê, agora silenciosamente.
Como não seria este engenho em sua época áurea? Imagino fortes negros escravos trabalhando, a cana armazenada, as máquinas importadas a fazer seus barulhos característicos, o chão sempre sujo e aquele ar quente espalhando-se entre os que trabalham sem parar, quer nas máquinas ou enchendo os sacos com açúcar e empilhando-os. E o apito que sempre ao anoitecer, dava pequenos sinais de luz, anunciando que em breve iria apagar-se, dando final ao exaustivo dia. Ainda existem também casas da antiga senzala e da primeira casa-sede da fazenda, mais antiga que o próprio sobrado, com mais ou menos duzentos anos.
Mas, uma coisa ainda está no mesmo lugar sem se alterar, vivo, rebelde: é o rio, este mesmo rio que quantas vezes não banhou os corpos dos escravos suados do trabalho no engenho, e as lavadeiras que de geração em geração, até hoje, ali lavam as roupas de seus patrões. Sim, ele está ali, e estará sempre, e esperando novas gerações que virão. É o eterno rio Guararema.
Engenho Sao Felix – Sua Historia e a de Seus Descendentes
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