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    Ensaio sobre a lucidez

    Por José Saramago
    Existem 15 citações disponíveis para Ensaio sobre a lucidez

    Sobre

    Numa manhã de votação que parecia como todas as outras, na capital de um país imaginário, os funcionários de uma das seções eleitorais se deparam com uma situação insólita, que mais tarde, durante as apurações, se confirmaria de maneira espantosa.

    Aquele não seria um pleito como tantos outros, com a tradicional divisão dos votos entre os partidos "da direita", "do centro" e "da esquerda"; o que se verifica é uma opção radical pelo voto em branco. Usando o símbolo máximo da democracia - o voto -, os eleitores parecem questionar profundamente o sistema de sucessão governamental em seu país.

    É desse "corte de energia cívica" que fala Ensaio sobre a lucidez (2004). Não apenas no título José Saramago remete ao seu Ensaio sobre a cegueira (1995): também na trama ele retoma personagens e situações, revisitando algumas das questões éticas e políticas abordadas naquele romance.

    Ao narrar as providências de governo, polícia e imprensa para entender as razões da "epidemia branca" - ações estas que levam rapidamente a um devaneio autoritário -, o autor faz uma alegoria da fragilidade dos rituais democráticos, do sistema político e das instituições que nos governam.

    O que se propõe não é a substituição da democracia por um sistema alternativo, mas o seu permanente questionamento. É pela via da ficção que José Saramago entrevê uma saída para esse impasse - pois é a potência simbólica da literatura (território em que reflexão, humor, arte e política se entrosam) que se revela capaz de vencer a mediocridade, a ignorância e o medo.

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    Citações de Ensaio sobre a lucidez

    em toda a verdade humana há sempre algo de angustioso, de aflito, nós somos, e não estou a referir-me simplesmente à fragilidade da vida, somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo,

    Que pretendem eles conseguir com isso, as manifestações nunca serviram para nada, ou então nunca as autorizaríamos,

    Nascemos, e nesse momento é como se tivéssemos firmado um pacto para toda a vida, mas o dia pode chegar em que nos perguntemos Quem assinou isto por mim,

    Aprendi neste ofício que os que mandam não só não se detêm diante do que nós chamamos absurdos, como se servem deles para entorpecer as consciências e aniquilar a razão,

    os humanos são universalmente conhecidos como os únicos animais capazes de mentir, sendo certo que se às vezes o fazem por medo, e às vezes por interesse, também às vezes o fazem porque perceberam a tempo que essa era a única maneira ao seu alcance de defenderem a verdade.

    A esperança é como o sal, não alimenta, mas dá sabor ao pão,

    A questão que mais preocupa a uns e a outros é a quanto montará desta vez a abstenção, como se nela é que se encontrasse a porta de salvação para a difícil situação social e política em que o país se encontra

    Para estar deitado todas as horas são boas, assim lhe diria o meu gato,

    não tendo os cidadãos deste país o saudável costume de exigir o regular cumprimento dos direitos que a constituição lhes outorgava, era lógico, era mesmo natural que não tivessem chegado a dar-se conta de que lhos haviam suspendido.

    O senhor primeiro-ministro sabe melhor que ninguém que nenhum ministro do interior, em qualquer época e em qualquer país do mundo, abriu alguma vez a boca para falar das misérias, das vergonhas, das traições e dos crimes do seu ofício, portanto pode ficar descansado, também neste caso não serei uma excepção,

    A mim, a experiência tem-me ensinado que os piores filhos de puta são alguns que não têm aspecto de o serem,

    Se são certas as informações que me chegaram antes mesmo de vir para aqui estariam a preparar uma manifestação, Que pretendem eles conseguir com isso, as manifestações nunca serviram para nada, ou então nunca as autorizaríamos,

    O silêncio que se sucedeu a estas palavras demonstrou uma vez mais que o tempo não tem nada que ver com o que dele nos dizem os relógios, essas maquinetas feitas de rodas que não pensam e de molas que não sentem, desprovidas de um espírito que lhes permitiria imaginar que cinco insignificantes segundos escandidos, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, haviam sido uma agónica tortura para um lado e um remanso de sublime gozo para o outro.

    O silêncio que se sucedeu a estas palavras demonstrou uma vez mais que o tempo não tem nada que ver com o que dele nos dizem os relógios, essas maquinetas feitas de rodas que não pensam e de molas que não sentem, desprovidas de um espírito que lhes permitiria imaginar que cinco insignificantes segundos escandidos, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, haviam sido uma agónica tortura para um lado

    quem sabe se o mundo não seria um pouco mais decente se soubéssemos como reunir umas quantas palavras que andam por aí soltas,

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