primeira vez que vi uma preguiça, o bicho que era de sobrenome e alcunha o bicho-preguiça, por antonomásia de considerações, corri feito um despencado em morro abaixo, usando o proveito do medo que me desenvoltou. Uma razão, explicada de formato, é que era a primeira vez, segundo eu soubera, que demônios aparecem em luz de meio-dia usando o corpo da inocência. Meu amigo de todos os dias, o Licurgo Pirola, punha-se dois metros abaixo da minha posição, em beira de riacho onde era abundante o lambari. Se não, pelo menos faminto de todas as coisas que caíssem na água, pois que era o mês de julho e as secas eram violentas naquele ano. Havia um movimento de mormaço no ar, todavia, embora ventos avisassem o agosto bem próximo. Licurgo Pirola olhava o movimento dos peixes, apanhava um, a água pouca, a fome demasiada deles, atirava anzol e puxava a via viva do corpo prateado. Havia mormaço, e uma coisa absconsa alimentou-me os olhos, arriba. Por mirada, deixei cair o queixo e mijei dois pingos na cueca. Acostumado a ver bichos em posição sobre quatro patas, qual o cachorro e o gato, avistei aquilo: de ponta-cabeça, abraçado a um galho seco de ipê, a árvore nua de folhas, de resina, de tudo, um bicho de cor camuflosa, quase que um susto em si mesmo, uma obscenidade considerável para a hora do meio-dia. O manjaléu.
Entre o Toureiro e o Pescador de Ostras
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