?Estado de despejo? é o terceiro livro de poemas de Ricardo Rizzo. Lançado exclusivamente em formato digital pelo selo Geleia Real, que tem coordenação de Ronald Polito.
Para Eduardo Sterzi, que assina o posfácio, ?não há (?) como ser poeta, hoje, sem se defrontar com o que Ruy Belo, ainda em diálogo com os resíduos teológicos de sua formação juvenil, designou, no título de um de seus livros, «o problema da habitação». Nesse mundo, apenas a transformação do objeto em mercadoria ? «rito odiado» pelo qual o «velho coração de objeto / gasto de existir / desde a pedra lascada» é exposto «a uma plateia calada» ? faz-se interpretar como conquista de «uma vida / maior [...] e mais livre». Compreende-se que seja, por contraposição, precisamente a «mínima vida» que interesse ao poeta: «vida mínima» ou «vida menor», diria ainda Drummond; «um pouco de vida, uma semi-vida», dirá agora Ricardo Rizzo. Trata-se, aqui, de dar atenção àquela «parcela mínima de vida», comum a homens e vírus (biologicamente, o gene; filosoficamente, diríamos com Benjamin e Agamben, a «vida nua»), que, como bem viu Oswald de Andrade, concentra numa «duplicidade antagônica» ? ao mesmo tempo «benéfica» e «maléfica» ? «o seu caráter conflitual com o mundo». Em ninguém essa «mínima vida» é mais aparente do que nos miseráveis: naqueles que foram reduzidos a ela. No entanto, é precisamente esse «pouco de vida» ? e não a participação em qualquer plenitude mais ou menos ilusória ? que constitui a região ontológica comum a elefantes e filhas inventadas, sem-teto e brinquedos quebrados, Macabéa e o corpo despedaçado de Cristo, o «bicho» que procura comida no lixo do pátio e os «velhos espíritos» que são «formas de poeira» resistentes à história e sua destruição, «o baço / que não usaram no transplante» e «alguma víscera / inicialmente não prevista».
Ricardo Rizzo (Juiz de Fora, MG, 3/8/1981) é autor de Cavalo marinho e outros poemas (Funalfa Edições, Juiz de Fora/Nankin Editorial, São Paulo, 2002), Conforme a música (poemas, plaquete, Espectro Editorial, 2005), País em branco (poemas, Ateliê Editorial, São Paulo, 2007) e Sobre rochedos movediços: deliberação e hierarquia no pensamento político de José de Alencar (Hucitec/Fapesp, São Paulo, 2012). Colaborou com poemas, ensaio e tradução nas revistas Cacto (n. 203, São Paulo, 2003), Rodapé (n. 3, Editora Nankin, São Paulo, 2004), Rattapallax (n. 10, Nova York/São Paulo, 2004) e Poesia Sempre (n. 22, Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 2006). Recebeu o prêmio ?Cidade Belo Horizonte? de literatura, na categoria poesia, em 2004. Foi editor da revista de literatura Jandira (Funalfa Edições, Juiz de Fora, 2004-2005, números 1 e 2). Diplomata, é bacharel em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo, onde cursa atualmente o doutorado em história social.
Para Eduardo Sterzi, que assina o posfácio, ?não há (?) como ser poeta, hoje, sem se defrontar com o que Ruy Belo, ainda em diálogo com os resíduos teológicos de sua formação juvenil, designou, no título de um de seus livros, «o problema da habitação». Nesse mundo, apenas a transformação do objeto em mercadoria ? «rito odiado» pelo qual o «velho coração de objeto / gasto de existir / desde a pedra lascada» é exposto «a uma plateia calada» ? faz-se interpretar como conquista de «uma vida / maior [...] e mais livre». Compreende-se que seja, por contraposição, precisamente a «mínima vida» que interesse ao poeta: «vida mínima» ou «vida menor», diria ainda Drummond; «um pouco de vida, uma semi-vida», dirá agora Ricardo Rizzo. Trata-se, aqui, de dar atenção àquela «parcela mínima de vida», comum a homens e vírus (biologicamente, o gene; filosoficamente, diríamos com Benjamin e Agamben, a «vida nua»), que, como bem viu Oswald de Andrade, concentra numa «duplicidade antagônica» ? ao mesmo tempo «benéfica» e «maléfica» ? «o seu caráter conflitual com o mundo». Em ninguém essa «mínima vida» é mais aparente do que nos miseráveis: naqueles que foram reduzidos a ela. No entanto, é precisamente esse «pouco de vida» ? e não a participação em qualquer plenitude mais ou menos ilusória ? que constitui a região ontológica comum a elefantes e filhas inventadas, sem-teto e brinquedos quebrados, Macabéa e o corpo despedaçado de Cristo, o «bicho» que procura comida no lixo do pátio e os «velhos espíritos» que são «formas de poeira» resistentes à história e sua destruição, «o baço / que não usaram no transplante» e «alguma víscera / inicialmente não prevista».
Ricardo Rizzo (Juiz de Fora, MG, 3/8/1981) é autor de Cavalo marinho e outros poemas (Funalfa Edições, Juiz de Fora/Nankin Editorial, São Paulo, 2002), Conforme a música (poemas, plaquete, Espectro Editorial, 2005), País em branco (poemas, Ateliê Editorial, São Paulo, 2007) e Sobre rochedos movediços: deliberação e hierarquia no pensamento político de José de Alencar (Hucitec/Fapesp, São Paulo, 2012). Colaborou com poemas, ensaio e tradução nas revistas Cacto (n. 203, São Paulo, 2003), Rodapé (n. 3, Editora Nankin, São Paulo, 2004), Rattapallax (n. 10, Nova York/São Paulo, 2004) e Poesia Sempre (n. 22, Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 2006). Recebeu o prêmio ?Cidade Belo Horizonte? de literatura, na categoria poesia, em 2004. Foi editor da revista de literatura Jandira (Funalfa Edições, Juiz de Fora, 2004-2005, números 1 e 2). Diplomata, é bacharel em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo, onde cursa atualmente o doutorado em história social.