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    Futebol ao Sol e à Sombra

    Por Eduardo Galeano
    Existem 11 citações disponíveis para Futebol ao Sol e à Sombra

    Sobre



    Acima do futebol está a lenda. Uma estranha magia se impõe ao esporte. E o jogo se transforma em saga, desperta paixões, cria mitos, heróis, glórias e tragédias. Exaltado pelas multidões, criou em seu lado sombrio um mundo à parte, onde envolve poderosíssimos interesses políticos e financeiros.

    Mas nada se sobrepõe ao encanto desta "festa pagã". Para captar este fascinante universo de perdas e conquistas, Eduardo Galeano penetrou nas profundezas da história e das histórias que se passam dentro e fora das quatro linhas. Construiu este livro como um verdadeiro monumento à paixão. Através de sua prosa consagrada, tudo tem sabor. Pelé, Di Stéfano, Maradona, Zizinho, Didi, Garrincha, Obdúlio Varella ? o carrasco uruguaio de 1950 ?, o aranha negra Yachin, Leônidas, Platini, Domingos da Guia, Friedenreich e muitos outros craques são mostrados nos seus momentos de esplendor e desgraça.

    Ágil, emotivo, este livro flui prazerosamente. Não é preciso ser um apaixonado da bola para apreciar esta saga. Basta se apreciar a grande literatura.
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    Citações de Futebol ao Sol e à Sombra

    “De modo que nós que frequentamos uma Academia, temos uma posição na sociedade, fazemos a barba no Salão Naval, jantamos na Rotisserie, frequentamos as conferências literárias, vamos ao five o’clock … somos obrigados a jogar com um operário, limador, torneiro mecânico, motorista e profissões outras que absolutamente não estão em relação com o meio onde vivemos. Nesse caso a prática do esporte torna-se um suplício, um sacrifício, mas nunca uma diversão.”

    Há atores insuperáveis na arte de ganhar tempo: o jogador coloca a máscara do mártir que acaba de ser crucificado, e então rola em agonia, agarrando o joelho ou a cabeça, e fica estendido na grama. Passam os minutos. Em ritmo de tartaruga chega o massagista, o mão-santa, gordo suado, cheirando a linimento, com a toalha no pescoço, o cantil numa mão e na outra alguma poção infalível. E passam as horas e os anos, até que o juiz manda tirar aquele cadáver do campo. E então, subitamente, o jogador dá um pulo, e ocorre o milagre da ressurreição.

    A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.

    O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol é cada vez menos frequente na vida moderna.

    Foi no Mundial de 50. Na partida contra a Iugoslávia, Zizinho fez um gol bis. Este senhor da graça do futebol tinha feito um gol legítimo, que o juiz anulou injustamente. Então, ele repetiu igualzinho, passo a passo. Zizinho entrou na área pelo mesmo lugar, esquivou-se do mesmo beque iugoslavo com a mesma delicadeza, escapando pela esquerda como tinha feito antes, e cravou a bola exatamente no mesmo ângulo. Depois chutou-a com fúria, várias vezes, contra a rede. O árbitro compreendeu que Zizinho era capaz de repetir aquele gol dez vezes mais, e não teve outro remédio senão aceitá-lo.

    viagem, a que havia feito o futebol: tinha sido organizado nos colégios e universidades inglesas, e na América do Sul alegrava a vida de gente que nunca tinha pisado numa escola.

    Foram imigrantes, ou filhos de imigrantes, quase todos os jogadores que vestiram a camiseta azul e cantaram a Marselhesa antes de cada partida. Thuram, elevado à categoria de herói nacional por dois golaços, Henry, Desailly, Viera e Karembeu vinham da África, das ilhas do Caribe ou de Nova Caledônia. Os demais provinham, em sua maioria, de famílias vascas, armênias ou argentinas. Zidane, o mais aclamado, é filho de argelinos. Zidane Presidente, escreveram mãos anônimas, no dia da festa, no frontão do Arco de Triunfo. Presidente? Há muitos árabes, ou filhos de árabes, na França, mas nenhum é deputado. Ministro, nem falar. Uma pesquisa publicada durante o Mundial confirmou que quatro de cada dez franceses têm preconceito racial. O dúplice discurso do racismo permite ovacionar os heróis e maldizer os demais. O troféu mundial foi festejado por uma multidão só comparável àquela que encheu as ruas, há mais de meio século, quando chegou ao fim a ocupação alemã.

    Didi e ela Eu sempre tive muito carinho por ela. Porque se não a tratarmos com carinho, ela não obedece. Quando ela vinha, eu a dominava, ela obedecia. Às vezes ela ia por ali, e eu dizia: “Vem cá, filhinha”, e a trazia. Eu pegava de calo, de joanete, e ela estava ali, obediente. Eu a tratava com tanto carinho como trato a minha mulher. Tinha por ela um carinho tremendo. Porque ela é fogo. Se você a maltratar, quebra a perna. É por isso que eu digo: “Rapazes, vamos, respeitem. Esta é uma menina que tem que ser tratada com muito amor…” Conforme o lugarzinho em que a tocarmos, ela toma um destino. (Testemunho recolhido por Roberto Moura)

    Gol de Garrincha Foi em 1958, na Itália. A seleção do Brasil jogava contra o Fiorentina, a caminho do Mundial da Suécia. Garrincha invadiu a área, deixou um beque sentado e se livrou de outro, e de outro. Quando já tinha enganado até o goleiro, descobriu que havia um jogador na linha do gol: Garrincha fez que sim, fez que não, fez de conta que chutava no ângulo e o pobre coitado bateu com o nariz na trave. Então, o arqueiro tornou a incomodar. Garrincha meteu-lhe a bola entre as pernas e entrou no arco. Depois, com a bola debaixo do braço, voltou lentamente ao campo. Caminhava olhando para o chão, Chaplin em câmara lenta, como que pedindo desculpas por aquele gol, que levantou a cidade de Florença inteira.

    A onipotência do domingo exorciza a vida obediente do resto da semana, a cama sem desejo, o emprego sem vocação ou emprego nenhum: liberado por um dia, o fanático tem muito de que se vingar.

    Gol de Sanfilippo Querido Eduardo: Te conto que dia desses estive no supermercado “Carrefour”, onde antigamente era o campo do San Lorenzo. Fui com José Sanfilippo, o herói da minha infância, que foi goleador do San Lorenzo quatro temporadas seguidas. Caminhamos entre as prateleiras, rodeados de caçarolas, queijos e résteas de linguiça. De repente, quando nos aproximamos das  caixas, Sanfilippo abre os braços e me diz: “E pensar que bem daqui meti um gol de bate-pronto no Roma, naquela partida contra o Boca…”. Passa diante de uma gorda que arrasta um carrinho cheio de latas, bifes e verduras, e diz: “Foi o gol mais rápido da história”.

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