Garota, Interrompida
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Vazio e tédio: é dizer pouco. O que eu sentia era uma total desolação. Desolação, desespero e depressão.
Será que todos viam aquilo e fingiam que não viam? Seria a insanidade uma simples questão de parar de fingir?
você está se sentindo isolada e diferente das outras pessoas e por isso projeta nelas seu desconforto.
Quem observa não consegue saber se uma pessoa está calada e quieta porque sua vida interior estacionou ou porque sua vida interior é de uma atividade paralisante.
As cicatrizes não têm personalidade. Não são como a pele da gente: não mostram a idade ou alguma doença, a palidez ou o bronzeado. Não têm poros, pelos ou rugas. São uma espécie de fronha, que protege e esconde o que houver por baixo. Por isso as criamos. Porque temos algo a esconder.
No fim, estava farta de remexer nas sombras.
Seria a insanidade uma simples questão de parar de fingir?
O que é pior: uma sobrecarga ou o seu contrário? Por sorte, nunca tive de escolher. As duas coisas se manifestavam, passavam correndo ou driblando por mim e seguiam adiante.
O hospital se especializou em poetas e cantores, ou será que os poetas e cantores se especializaram na loucura?
Dizemos que Colombo descobriu a América e Newton descobriu a gravidade, como se a América e a gravidade não existissem antes de ser intuídas por Colombo e Newton.
Fazer parte de um grupo, portanto, era como ter de pegar um ônibus errado.
— Escrever – respondi, quando minha assistente social perguntou o que eu pretendia fazer depois de sair do hospital. — Vou ser escritora. — É um ótimo passatempo, mas como é que você vai se sustentar?
A repulsa sempre tem um quê de fascinação.
UMA DE NÓS ATEOU FOGO EM SI MESMA, com gasolina. Na época, ela não tinha idade suficiente para dirigir. Minha dúvida era de que maneira ela teria conseguido a gasolina. Teria caminhado até o posto de gasolina do bairro e dito que o carro do pai tinha ficado sem combustível? Eu não conseguia olhar para ela sem pensar nisso. Creio que a gasolina tinha se acumulado em suas clavículas, formando poças junto aos ombros, pois as cicatrizes piores eram as que exibia no pescoço e nas faces. Formavam cordões grossos, alternadamente cor-de-rosa e brancos, em listras que subiam pelo pescoço. Eram tão duras e largas que ela não conseguia virar a cabeça, tendo de girar todo o tronco para enxergar quem estava ao lado. As cicatrizes não têm personalidade. Não são como a pele da gente: não mostram a idade ou alguma doença, a palidez ou o bronzeado. Não têm poros, pelos ou rugas. São uma espécie de fronha, que protege e esconde o que houver por baixo. Por isso as criamos. Porque temos algo a esconder. Chamava-se Polly. Um nome que na certa lhe parecera ridículo nos dias ou meses em que planejara atear fogo nela mesma, mas que se adequava com perfeição à sua vida de sobrevivente sob a fronha. Nunca estava triste. Era gentil e confortava os tristes. Nunca se queixava e sempre tinha tempo para ouvir as queixas dos outros. Não havia defeitos dentro daquele invólucro rosa e branco, justo e impermeável. O que quer que a tivesse motivado, murmurando-lhe “Morra!” ao pé do ouvido outrora perfeito e hoje desfigurado, ela havia imolado. Por que fizera aquilo? Ninguém sabia. Ninguém se atrevia a perguntar. Afinal, que coragem! Quem teria coragem de se queimar daquele jeito? Vinte aspirinas, um pequeno talho acompanhando as veias do braço, até mesmo – quem sabe? – meia hora de horror no alto de um telhado: todos passamos por algo assim. E por outras coisas um pouco mais perigosas, como enfiar um revólver na boca. Entretanto, ao enfiá-lo na boca e sentir seu gosto frio e oleoso, dedo pousado no gat
Não lhe faltam argumentos e razões. “Você está um pouco deprimida, por causa do trabalho estressante”, diz (mas nunca “você está um pouco deprimida porque seu nível de serotonina baixou”).