Guariba
Esse romance é ambientado no Alto Paranaíba. A Guariba era um latifúndio que pertenceu ao avô de JH Henriques. É evidente que o lócus é o mesmo onde se desenvolvem as peripécias dos personagens desse romance. Entretanto, aqui a proprietária é Dona Maria Leão, retirada dos arquivos das histórias ouvidas pelo autor durante as suas perambulações pelo mundo. Amante declarado da região de Patos de Minas e do Carmo do Paranaíba – o autor tem vários livros citando esses ambientes -, Henriques descreve aqui a terra com esmero. Fá-lo com substância memorável. Em alguns momentos, a dimensão do romance diverge para um plano espiritualista que também não pode ser negado. Assim começa esse romance: Guariba nem tinha amanhecido direito e já se sabia o grito continuado das coisas de lá. Era um mês de março com farturas de chuvas e cada momento podia ser atravessado pela pancada delas. As chuvas ficavam aparecidas, tanto estavam em altura quanto em profundidade de seus elementos: a báscula entre a manga que desce e a quantia que cada mangada tem. O dia de apartação de porco, de toda manta de banha sadia que podia ser imaginada, ora, que a gritaria maior vinha da ceva, das duas cevas que ficavam rente aos demais lugares, no centro dos marmeleiros e de umas árvores novas que dona Maria Leão tinha trazido de um lugar que ela falava o nome e ninguém conseguia repetir. Era o caqui, uma novidade que excedia demais quando os da terra, os nativos, punham em demanda as novidades boas de serem ditas; estas novidades que ditam uma sabedoria meio afetada, mesmo entre elas que não se apreciam nas vastas curvas da afetação. Kaki. Falavam e esperavam pelo amadurecimento das frutas já parecidas com frutas maduras com a finalidade de provocar o doce do entendido. Olhavam alguns, tinha vez, colhiam a fruta ainda verde e largavam na carne dela os dentes ou o canivete, experimentavam para saber se aquilo era deveras coisa boa de ser mastigada ou se a massa não passava de mais um engodo que dá leite e pode até levar um coitado muito afoito para a cova. Quando via aquilo, a curiosidade das criaturas, Manoel Amâncio, o mais velho e dado a sabedorias dentro do lugar, gritava para dentro de si mesmo. Esse bobo vai amassar a tampa da binga! E ria. Tinha muito riso para ser despachado diante daquilo que via. Um das coisas que mais gostava o velho, seus modos antigos, era perceber que algum atrevimento vem na alma de uma pessoa. Falava.
- Quer dar uma de sabido e mal entende que vai deveras mesmo é amassar a tampa da binga!
Esse romance é ambientado no Alto Paranaíba. A Guariba era um latifúndio que pertenceu ao avô de JH Henriques. É evidente que o lócus é o mesmo onde se desenvolvem as peripécias dos personagens desse romance. Entretanto, aqui a proprietária é Dona Maria Leão, retirada dos arquivos das histórias ouvidas pelo autor durante as suas perambulações pelo mundo. Amante declarado da região de Patos de Minas e do Carmo do Paranaíba – o autor tem vários livros citando esses ambientes -, Henriques descreve aqui a terra com esmero. Fá-lo com substância memorável. Em alguns momentos, a dimensão do romance diverge para um plano espiritualista que também não pode ser negado. Assim começa esse romance: Guariba nem tinha amanhecido direito e já se sabia o grito continuado das coisas de lá. Era um mês de março com farturas de chuvas e cada momento podia ser atravessado pela pancada delas. As chuvas ficavam aparecidas, tanto estavam em altura quanto em profundidade de seus elementos: a báscula entre a manga que desce e a quantia que cada mangada tem. O dia de apartação de porco, de toda manta de banha sadia que podia ser imaginada, ora, que a gritaria maior vinha da ceva, das duas cevas que ficavam rente aos demais lugares, no centro dos marmeleiros e de umas árvores novas que dona Maria Leão tinha trazido de um lugar que ela falava o nome e ninguém conseguia repetir. Era o caqui, uma novidade que excedia demais quando os da terra, os nativos, punham em demanda as novidades boas de serem ditas; estas novidades que ditam uma sabedoria meio afetada, mesmo entre elas que não se apreciam nas vastas curvas da afetação. Kaki. Falavam e esperavam pelo amadurecimento das frutas já parecidas com frutas maduras com a finalidade de provocar o doce do entendido. Olhavam alguns, tinha vez, colhiam a fruta ainda verde e largavam na carne dela os dentes ou o canivete, experimentavam para saber se aquilo era deveras coisa boa de ser mastigada ou se a massa não passava de mais um engodo que dá leite e pode até levar um coitado muito afoito para a cova. Quando via aquilo, a curiosidade das criaturas, Manoel Amâncio, o mais velho e dado a sabedorias dentro do lugar, gritava para dentro de si mesmo. Esse bobo vai amassar a tampa da binga! E ria. Tinha muito riso para ser despachado diante daquilo que via. Um das coisas que mais gostava o velho, seus modos antigos, era perceber que algum atrevimento vem na alma de uma pessoa. Falava.
- Quer dar uma de sabido e mal entende que vai deveras mesmo é amassar a tampa da binga!