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    Histórias Intimas

    Por Del Priore, Mary
    Existem 15 citações disponíveis para Histórias Intimas

    Sobre

    Quando o Brasil era a Terra de Santa Cruz, as mulheres tinham de se enfear e os homens precisavam dormir de lado, nunca de costas, porque a concentração de calor na região lombar? excitava os órgãos sexuais. E nos momentos a sós geralmente no meio do mato, e não em casa, porque chave era artigo de luxo e não era possível fechar as portas aos olhares e ouvidos curiosos, as mulheres levantavam as saias e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Tirar a roupa era proibido. E beijar na boca? Bem... sem pasta e escova de dentes, difícil.

    Mas como o proibido aguça mais a vontade, a instituição que mais repreendia os afoitos, ironicamente, acabou se tornando o templo da perdição. Onde as pessoas poderiam se encontrar, trocar risos e galanteios e até ter relações sexuais, sem despertar suspeitas, se não no escurinho... das igrejas?

    Casos saborosos como esses são narrados por uma das maiores historiadoras do país, Mary del Priore. Em Histórias Íntimas, ela mostra como a sexualidade e a noção de intimidade foram mudando ao longo do tempo, influenciadas por questões políticas, econômicas e culturais, e passaram de um assunto a ser evitado a todo custo para um dos mais comentados nos dias de hoje.
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    Citações de Histórias Intimas

    xodó, que quer dizer, em banto, namorado, amante, paixão; nozdo, amor e desejo; naborodô, fazer amor; caxuxa, termo afetuoso para mulher jovem; enxodozado, apaixonado; indumba, adultério; kukungola, jovem solteira que perdeu a virgindade; dengue, candongo e kandonga, bem-querer, benzinho, amor; binga, homem chifrudo; huhádumi, venha me comer/foder.

    Afinal, como se queixava padre Anchieta, além de andar peladas, as indígenas não se negavam a ninguém.

    Acreditava-se que o sangue materno cozinhava com o calor do coração, tornando-se branco e leitoso.

    Muitos mais pensavam que a histeria era decorrente do fato de que o cérebro feminino podia ser dominado pelo útero.

    Considerado natural nas mulheres, o pudor permitia afirmar que uma mulher nua podia ser mais pudica do que uma vestida. Isso, pois acreditava-se que, ao despir-se, ela se cobria com as vestes da vergonha.

    Proibidos aos religiosos, sobretudo quando jovens, abster-se de banho se tornou sinônimo de santidade.

    Há autores que sublinham a esquizofrenia do brasileiro, um povo que adora e, ao mesmo tempo, repudia a sua vocação mais escancarada e libertina. Povo irreverente que tanto adora sexo quanto falar dele, mas que também não consegue se desvencilhar de um ranço moralista e extremamente conservador que ainda insiste em afirmar que tudo o que se refere a sexo é sujo e pecaminoso, e valoriza o sofrimento em detrimento do prazer. Mas, com uma história de tanta repressão, não é difícil entender as razões para o moralismo.

    o século XIX, a Igreja tinha certa tolerância em relação ao aborto. Acreditando que a alma só passava a existir no feto masculino após quarenta dias da concepção, e, no feminino, depois de oitenta, o que acontecesse antes da “entrada da alma” não era considerado crime nem pecado. Tudo

    É também o caso do “namoro de escarrinho”, costume luso-brasileiro dos séculos XVII e XVIII, no qual o enamorado punha-se embaixo da janela da moça e não dizia nada, limitando-se a fungar à maneira de gente resfriada. Caso a declaração fosse correspondida, seguia-se uma cadeia de tosses, assoar de narizes e cuspidelas. Escapa-nos, sobremaneira, o apelo sedutor que os tais “escarrinhos” poderiam ter naquele tempo, mas sabe-se que até hoje, no interior do país, o namoro à janela das moças não desapareceu de todo.

    “A imaginação sente-se singularmente excitada quando a gente vê essas figuras semelhantes às freiras, envoltas totalmente num manto preto, das quais mal se percebem o pezinho delicado e elegantemente calçado, um braço torneado e furtivo, carregado de braceletes e um par de olhos, cujo vivo fulgor as rendas não conseguem cobrir, movendo-se com leveza e graça sob os trajes pesados”, confessava um viajante estrangeiro.

    À fornicação e aos pecados sexuais nos trópicos não faltaram pontadas de racismo e desprezo à mulher de origem africana.

    A vagina só podia ser reconhecida como órgão de reprodução, como espaço sagrado dos “tesouros da natureza” relativos à maternidade. Nada de prazer. As pessoas consideradas “decentes” costumavam se depilar ou raspar as partes pudendas para destituí-las de qualquer valor erótico. Frisar, pentear ou cachear os pelos púbicos eram apanágios das prostitutas. Tal lugar geográfico só podia estar associado a uma coisa: à procriação.

    Existia um alto nível de violência nas relações conjugais. Não só violência física, na forma de surras e açoites, mas a violência do abandono, do desprezo, do malquerer. Os fatores econômicos e políticos que estavam envolvidos na escolha matrimonial

    de testículos de galo, cebolas

    Desde os anos 1830, o espéculo era usado. O gesto suscitava controvérsias: muitos maridos consideravam sua utilização uma forma de estupro médico. O álibi científico servia, muitas vezes, para mascarar certas necessidades do desejo. Comentava-se sobre médicos que aliviavam, não sem prazer, suas pacientes histéricas, conduzindo-as a orgasmos repetidos graças a carícias. Isso até que o apetite pelo remédio começasse a escandalizar a família das pacientes. Em tempos de linguagem censurada, as teorias médicas eram as únicas autorizadas a falar sobre prazer e sexualidade.

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