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    ISLA SALEROSA

    Por Luiz Carlos Kovalski

    Sobre

    Os dias, semanas e dois meses que se seguiram foram de regozijo para toda a comunidade. O fato de termos ficado quase à beira da nudez, nos tinha assombrado, não tanto pelo desconforto ou inibição, mas principalmente pela constatação de iminente perda de mais uma parcela de cidadania, de civilização. Um povo abandonado e nu, não era algo confortável para nossa auto estima. Vivemos dois meses de pura empolgação com a vida insular que o destino tinha nos sorteado. Mas não havia unanimidade, neste frágil estado de Mirvana. Em alguns semblantes era palpável o fastio por nossa vida bucólica. O suspirar sardônico de desprezo pelas almas mais adaptáveis, e perambulavam pelas praias e trilhas daquela pangeia liliputiana, preferindo a inércia sob as sombras movediças dos pandanos. Olhares perdidos no horizonte trêmulo, como esperando avistar um galeão espanhol, algo bem condizente com nossa realidade de náufragos diletantes. Ou então, meditando em altas filosofias, e num empenho mais deletério, conspirando.

    ... a moeda forte feminina, algo igualmente implícito e inefável, também não difere muito aqui na ilha, onde tudo é tão simples e limitado. Onde a imponência artificial desaparece, onde o toc toc nos pisos de mármore é substituído pelo arrastar de pés descalços sibilando em areia fina. Onde as fragrâncias de Dior e de Channel perdem espaço para fugaz aroma de hortelã silvestre com ligeiro toque de fumaça. Mas permanece a graça. A graciosidade atávica.
    Dois momentos distintos de Isla Salerosa, o drama de sobreviventes de desastre aéreo, submetidos a tentar se manterem vivos numa ilha hostil e ignorada, sem esperanças de resgate. A perplexidade que oprime os sentidos de quem se depara longe de tudo o que conhece e que supostamente domina. Panorama inusitado, quando seres humanos respondem às circunstâncias com reações imprevisíveis, positivas ou não, tentando não sucumbir à decrepitude orgânica e existencial. A agrestia da paisagem, as carências básicas não supridas, aumentam a sensação de ruptura, e o verniz da civilização perde o brilho, expondo o "dark side" de cada um. Se voltar é infactível, o recomeço é imperioso.
    Nunca saberemos quem realmente somos, antes de sermos submetido às insídias do desconhecido.

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