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    K.: Relato de uma busca

    Por Bernardo Kucinski
    Existem 12 citações disponíveis para K.: Relato de uma busca

    Sobre



    Aclamado pela crítica e finalista dos prêmios Portugal Telecom e São Paulo de Literatura de 2012, K. é relançado pela Cosac Naify, por ocasião da efeméride de cinquenta anos do Golpe Militar de 1964, com posfácio de Renato Lessa.
    O romance de estreia do jornalista Bernardo Kucinski narra a história de um pai em busca da filha que desapareceu, como tantos outros, durante a ditadura no Brasil. A narrativa a um tempo enxuta e sensível de Kucinski é feita de capítulos quase independentes, apresentando vários ângulos de uma mesma história ? a história da ausência e da impunidade.
    [Versão digital inclui dois contos inéditos do autor]
    Cosac Naify
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    Citações de K.: Relato de uma busca

    Queria demarcar uma posse? Não. Não faz sentido. Talvez soubesse, isso sim, e desde sempre, que os livros seriam os únicos vestígios de sua vocação revolucionária, pequenas lápides de um túmulo até hoje inexistente.

    Além do mundo que se vê e nos acalma com seus bons-dias boas-tardes, como vai tudo bem, há um outro que não se deixa ver, um mundo de obscenidades e vilanias. É nele que vicejam os informantes.

    O Estado não tem rosto nem sentimentos, é opaco e perverso. Sua única fresta é a corrupção. Mas às vezes até essa se fecha por razões superiores. E então o Estado se torna maligno em dobro, pela crueldade e por ser inatingível. Isso ele sabia muito bem.

    O pai que procura a filha desaparecida não tem medo de nada. Se no começo age com cautela não é por temor, mas porque, atônito, ainda tateia como um cego o labirinto inesperado da desaparição. O começo é um aprendizado, o próprio perigo precisa ser dimensionado, não para si, porque ele não tem medo de nada, para os outros: amigas, vizinhos, colegas de faculdade.

    Como foi possível nunca ter refletido sobre esse estranho costume dos brasileiros de homenagear bandidos e torturadores e golpistas, como se fossem heróis ou benfeitores da humanidade.

    O “totalitarismo institucional” exige que a culpa, alimentada pela dúvida e opacidade dos segredos, e reforçada pelo recebimento das indenizações, permaneça dentro de cada sobrevivente como drama pessoal e familiar e não como a tragédia coletiva que foi e continua sendo, meio século depois.

    O elemento narrativo central do livro tem como foco o impacto do desaparecimento sobre K., imigrante judeu, com rico passado de militância política na Polônia pré-Holocausto e prestigioso escritor iídichista. K. vê-se, de modo súbito, diante do abismo da ausência irremediável da filha e empreende uma busca incansável por sinais. Busca para a qual estava, como de resto sempre se está, despreparado para empreender e na qual, ao mesmo tempo em que se vê no vórtice de um infinito negativo, reúne fragmentos sobre a vida de sua filha, por ele inimagináveis. Uma vida que, em função da militância e da clandestinidade, não se revelara aos familiares. K., assim, descobre que a filha havia se casado; encontra fotos nas quais ela aparece em uma cidade estranha no interior do país, em meio a novos parentes.

    Muito antes de atingir o coronelato o oficial já investe nesse pertencimento, através da bajulação e da subserviência. Agarra-se ao saco de um general.

    Mas, como em toda organização burocrática, as regras só valem para legitimar o favoritismo imanente, nunca para instaurar a meritocracia. As amizades é que decidem. Os vínculos de lealdade. Não a lealdade leal, que não precisa razões para existir, é a lealdade calculista, necessária à sobrevivência na guerra interna pela promoção burocrática. Nesse exército de oportunistas as únicas batalhas são as travadas por cada um contra seu igual, na disputa pela promoção. As vagas minguando mais e mais à medida que se sobe a escala de patente.

    Acendo a história, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sombra sem voz. Mia Couto, Terra sonâmbula

    Conto ao senhor é o que sei e o senhor não sabe; mas principal quero contar é o que eu não sei se sei, e que pode ser que o senhor saiba. Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas

    O carteiro nunca saberá que a destinatária não existe; que foi sequestrada, torturada e assassinada pela ditadura militar. Assim como o ignorarão antes dele, o separador das cartas e todos do seu entorno. O nome no envelope selado e carimbado como a atestar autenticidade, será o registro tipográfico não de um lapso ou falha do computador, e sim de um mal de Alzheimer nacional. Sim, a permanência do seu nome no rol dos vivos será, paradoxalmente, produto do esquecimento coletivo do rol dos mortos.

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