No céu existe um homem muito velho. Um ser recalcado, que no fundo se sente ameaçado pela nossa existência. Afinal de contas, estamos nos tornando fantásticos aos montes. Ele pode destruir tudo em questão de segundos, assim como nós. Ele pode criar vida e nós já podemos fazer órgãos com impressoras 3D. Curamos doenças e também as inventamos.
Diante disso, vivemos em uma constante guerra fria com a seguinte diretriz: cada um na sua. Subimos ao céu, muito longe, mas não adentramos a casa do Velho. Nós, por outro lado, ficamos aqui embaixo sem requisitar o ofício do Velho porque talvez este seja a única coisa que ele saiba fazer. Sim, esse velho só sabe ser Deus, e nós não temos tempo para isso. Já temos trabalho demais por aqui. Não pense que é fácil ser alguém aqui embaixo.
Porém, vez ou outra esse Velho pega alguém para Cristo. Talvez faça isso porque não tem TV, internet ou redes sociais para se distrair. E mesmo se tivesse, tenho certeza de que seria tudo tão chato e de mau gosto que certamente Ele ficaria entediado com facilidade. Desta vez ele me pegou para Cristo, e tudo que estava perfeitamente certo passou a dar muito errado. Não é à toa que me encontro mergulhado na mais completa infelicidade e sem rumo. Minha vida, se é que ainda posso chamar de vida este estado vegetativo, foi reduzida a uma simples tarefa: dormir.
Minha existência é baseada no torpor, que faz minha cabeça pender para o lado, assim como o corpo. Do nada me vejo deitado novamente no sofá, procurando espaço para me esticar em uma pilha de sujeira, restos de alimento e as poucas roupas limpas que tirei do varal, mas que não tive coragem de guardar. Não sinto nada, absolutamente nada.
Nos momentos de lucidez, fico de olho aberto nas luzes que invadem minha casa pelas frestas da porta e da janela. Fico pensando se estou vivo ou se já passei para o outro lado. Seria assim o céu ou o inferno? Tudo seria apenas um apartamento mal iluminado, sujo, sem nada para comer ou me vestir? Acredito que não. Confesso que seria decepcionante demais sair de uma vida ruim e sem sentido para mergulhar em uma realidade desse tipo. Estou vivo. Ainda...
Perdi completamente a noção do tempo. Não sei há quantos dias estou aqui deitado e a maior distância que percorri foi o trajeto que me leva ao banheiro e à cozinha com o intuito de buscar algo para me alimentar, ainda que eu sinta em meu peito e abdome um verdadeiro buraco que não consigo descrever, tamanha a sua complexidade. Vez ou outra eu tento me animar e ir até a sacada observar a cidade durante o dia ou a noite, mas o que me impede são algumas coisas que não desejo ver.
No caminho para a sacada existe um móvel e lá existem fotos, registros do que foi a minha vida. Lá estão as imagens de uma mulher linda que chamei de namorada, noiva, esposa, grande erro, ex e maldita mulher. Essa mulher levou embora minha filha, uma criança que nem posso ver por conta de uma ordem judicial.
Diante disso, vivemos em uma constante guerra fria com a seguinte diretriz: cada um na sua. Subimos ao céu, muito longe, mas não adentramos a casa do Velho. Nós, por outro lado, ficamos aqui embaixo sem requisitar o ofício do Velho porque talvez este seja a única coisa que ele saiba fazer. Sim, esse velho só sabe ser Deus, e nós não temos tempo para isso. Já temos trabalho demais por aqui. Não pense que é fácil ser alguém aqui embaixo.
Porém, vez ou outra esse Velho pega alguém para Cristo. Talvez faça isso porque não tem TV, internet ou redes sociais para se distrair. E mesmo se tivesse, tenho certeza de que seria tudo tão chato e de mau gosto que certamente Ele ficaria entediado com facilidade. Desta vez ele me pegou para Cristo, e tudo que estava perfeitamente certo passou a dar muito errado. Não é à toa que me encontro mergulhado na mais completa infelicidade e sem rumo. Minha vida, se é que ainda posso chamar de vida este estado vegetativo, foi reduzida a uma simples tarefa: dormir.
Minha existência é baseada no torpor, que faz minha cabeça pender para o lado, assim como o corpo. Do nada me vejo deitado novamente no sofá, procurando espaço para me esticar em uma pilha de sujeira, restos de alimento e as poucas roupas limpas que tirei do varal, mas que não tive coragem de guardar. Não sinto nada, absolutamente nada.
Nos momentos de lucidez, fico de olho aberto nas luzes que invadem minha casa pelas frestas da porta e da janela. Fico pensando se estou vivo ou se já passei para o outro lado. Seria assim o céu ou o inferno? Tudo seria apenas um apartamento mal iluminado, sujo, sem nada para comer ou me vestir? Acredito que não. Confesso que seria decepcionante demais sair de uma vida ruim e sem sentido para mergulhar em uma realidade desse tipo. Estou vivo. Ainda...
Perdi completamente a noção do tempo. Não sei há quantos dias estou aqui deitado e a maior distância que percorri foi o trajeto que me leva ao banheiro e à cozinha com o intuito de buscar algo para me alimentar, ainda que eu sinta em meu peito e abdome um verdadeiro buraco que não consigo descrever, tamanha a sua complexidade. Vez ou outra eu tento me animar e ir até a sacada observar a cidade durante o dia ou a noite, mas o que me impede são algumas coisas que não desejo ver.
No caminho para a sacada existe um móvel e lá existem fotos, registros do que foi a minha vida. Lá estão as imagens de uma mulher linda que chamei de namorada, noiva, esposa, grande erro, ex e maldita mulher. Essa mulher levou embora minha filha, uma criança que nem posso ver por conta de uma ordem judicial.
