O ano é 1848. Ao longo de um inverno particularmente rigoroso, agitações políticas e sociais espalham-se pela França. A população de Paris, centro nevrálgico da monarquia, subleva-se no final de fevereiro, forçando a abdicação e a fuga do rei Luís Filipe. Contudo, uma forte reação conservadora logo se impõe no governo republicano e na nova Assembleia Constituinte. No mês de junho, dezenas de milhares de operários levantam barricadas na primeira revolução socialista moderna, cuja repressão implacável resulta na morte de quase 5 mil pessoas.
Em Lembranças de 1848, Alexis de Tocqueville oferece à posteridade seu testemunho daquele momento crucial da história da França e de toda a Europa, reconstituindo com vividez os fatos e personagens do drama revolucionário desde seu ponto de vista de cidadão, deputado e ministro do ?partido da ordem? (como Marx denominou as forças reacionárias de então). Com a franqueza que apenas o compromisso com as gerações futuras pode proporcionar, o autor retrata o emaranhado de facções em luta pelo poder durante a Segunda República sem se deixar iludir pelo olhar enviesado de membro de uma aristocrática família, e denuncia com irônica lucidez o artificialismo e a teatralidade da política.