A morte trágica de Sofia, uma jovem do interior que deixa sua cidade natal para estudar filosofia em São Paulo nos inícios dos anos 1990, é o ponto de partida do romance. Mencionada logo no início, a morte deixa o centro da cena, mas seu espectro amarra as histórias de Sofia, Mariano, Vivian, Heitor, Clara e Hindemitz, todas girando, de um modo ou de outro, em torno da impossibilidade da liberdade. Mariano é um egocêntrico, fescenino e genial filósofo, que fascina e aterroriza Heitor, seu orientando de Doutorado e também Clara, companheira de Heitor, que conhece Sofia num acidente (um atropelamento) na Via Anhanguera e oferece carona a ela, com isso trazendo-a ao palco de sua tragédia. Sofia se apaixona, se casa e engravida de Mariano, sem saber que ele esconde, em seu passado heroico transcorrido em quase 40 anos de história do Brasil, o veneno que a destruirá.
A trama é narrada por Mariano, Sofia e Clara, esta na qualidade de memorialista que se debruça sobre os fragmentos de textos, entrevistas e diários deixados pelos outros personagens, dando-lhes sentido e unidade. As peças que ela ordena incluem a gravação da conversa entre Mariano e Hindemitz depois da morte de Sofia, alguns diários de Sofia, e as transcrições de fita das entrevistas concedidas por Mariano a um estudante de doutorado no início dos anos 1980, nas quais ele narra seu passado, e que não puderam ser usadas pelo estudante em sua tese. As linhas de tensão do texto, que correm paralelas e por vezes se entrecruzam, incluem a conflituosa relação entre Mariano e Heitor, que culmina com um caso de assédio sexual; a relação de confiança e amizade entre Clara e Sofia, e o profundo sentimento de culpa que a primeira alimenta por não ter conseguido salvá-la de Mariano; a trajetória de vida de Mariano, sua intuição de que Deus não existe, seu amor de juventude (Vivian), sua relação com um professor de história no ginásio, sua expulsão da cidade natal, o nascimento de sua filosofia, sua celebridade, sua ?predileção pelo abismo?, como ele gosta de falar; a ansiedade de Heitor na redação de sua tese de doutorado sobre, justamente, a liberdade; e o amor de Sofia por sua irmã Mena, por seu pai, e também por Hindemitz e depois por Mariano, além de suas imensas generosidade e ingenuidade, que impediram que ela visse a vaga que estava prestes a colhê-la.
Na forma, os três (Mariano, Clara e Sofia) narram em primeira pessoa, mas no caso de Mariano há um estranhamento. Além de contar sua própria história a Manoel (o estudante dos anos 1980) e depois a Hindemitz, é ele quem constrói o personagem de Heitor (e por afinidade, de Clara), isto é, toda a angústia, todo o medo, todo o asco, toda a ansiedade de Heitor nos são dados pela boca de Mariano, que tem um dom especial de se apoderar dos pensamentos daqueles a quem ele ama ou quer destruir, coisas que, em sua cabeça insana, andam juntas. É pelo modo como ele imaginou e viveu os sentimentos e pensamentos de Heitor que penetramos no labirinto da relação doentia entre os dois. Uma espécie de jogo de espelhos em que um se dá a conhecer pelo outro, a ponto de Clara, ao final, já não conseguir distingui-los.
Uma história brasileira de amor, entrega, ambições intelectuais, cobiça, incesto, projetos de vida frustrados pela mão cega do destino. Uma celebração da liberdade, que a tece, porém, como um sonho vão.
Adalberto Cardoso nasceu em 1961, em Uberlândia, Minas Gerais. É sociólogo, professor do IESP-UERJ e autor de mais de uma dezena de livros de sociologia. Liberdade é seu segundo romance. O primeiro, "Não há mais carteiros por aqui", foi publicado em 2013, pela editora KBR, e também pode ser adquirido no site da Amazon, em versão ebook ou impressa.
A trama é narrada por Mariano, Sofia e Clara, esta na qualidade de memorialista que se debruça sobre os fragmentos de textos, entrevistas e diários deixados pelos outros personagens, dando-lhes sentido e unidade. As peças que ela ordena incluem a gravação da conversa entre Mariano e Hindemitz depois da morte de Sofia, alguns diários de Sofia, e as transcrições de fita das entrevistas concedidas por Mariano a um estudante de doutorado no início dos anos 1980, nas quais ele narra seu passado, e que não puderam ser usadas pelo estudante em sua tese. As linhas de tensão do texto, que correm paralelas e por vezes se entrecruzam, incluem a conflituosa relação entre Mariano e Heitor, que culmina com um caso de assédio sexual; a relação de confiança e amizade entre Clara e Sofia, e o profundo sentimento de culpa que a primeira alimenta por não ter conseguido salvá-la de Mariano; a trajetória de vida de Mariano, sua intuição de que Deus não existe, seu amor de juventude (Vivian), sua relação com um professor de história no ginásio, sua expulsão da cidade natal, o nascimento de sua filosofia, sua celebridade, sua ?predileção pelo abismo?, como ele gosta de falar; a ansiedade de Heitor na redação de sua tese de doutorado sobre, justamente, a liberdade; e o amor de Sofia por sua irmã Mena, por seu pai, e também por Hindemitz e depois por Mariano, além de suas imensas generosidade e ingenuidade, que impediram que ela visse a vaga que estava prestes a colhê-la.
Na forma, os três (Mariano, Clara e Sofia) narram em primeira pessoa, mas no caso de Mariano há um estranhamento. Além de contar sua própria história a Manoel (o estudante dos anos 1980) e depois a Hindemitz, é ele quem constrói o personagem de Heitor (e por afinidade, de Clara), isto é, toda a angústia, todo o medo, todo o asco, toda a ansiedade de Heitor nos são dados pela boca de Mariano, que tem um dom especial de se apoderar dos pensamentos daqueles a quem ele ama ou quer destruir, coisas que, em sua cabeça insana, andam juntas. É pelo modo como ele imaginou e viveu os sentimentos e pensamentos de Heitor que penetramos no labirinto da relação doentia entre os dois. Uma espécie de jogo de espelhos em que um se dá a conhecer pelo outro, a ponto de Clara, ao final, já não conseguir distingui-los.
Uma história brasileira de amor, entrega, ambições intelectuais, cobiça, incesto, projetos de vida frustrados pela mão cega do destino. Uma celebração da liberdade, que a tece, porém, como um sonho vão.
Adalberto Cardoso nasceu em 1961, em Uberlândia, Minas Gerais. É sociólogo, professor do IESP-UERJ e autor de mais de uma dezena de livros de sociologia. Liberdade é seu segundo romance. O primeiro, "Não há mais carteiros por aqui", foi publicado em 2013, pela editora KBR, e também pode ser adquirido no site da Amazon, em versão ebook ou impressa.
