Mar Oceano veio a público em 1948, edição da Revista Clã, de Fortaleza, dois anos após o lançamento de Noite Feliz, também de contos. Uma outra edição do livro se fez em 1994, pela Universidade Federal do Ceará.
Em Mar Oceano, o contista se apresenta de corpo inteiro, usando a sua técnica formal de desenvolver a história curta, quase sempre bordejando a novela, sem nela cair, e arrematando-a com precisão notável. Essa roupagem literária retornaria uma década depois em O Amigo de Infância. Exceção para A Análise, que encerraria sua luminosa caminhada literária, valendo-se o escritor de um como dizer original, surpreendente e fascinante.
As sete histórias que compõem Mar Oceano estão muito bem realizadas, muito bem contadas, dentro daquela maneira muito especial de narrar, sua marca inconfundível dentro da variedade ?oceânica? de estrelas de primeira grandeza da arte escrita do século que termina.
Soma-se a estes contos um dado a mais e importantíssimo, antevisto nas obras anteriores, incluindo os romances: aqui, em cada história, em cada página, a trama psicológica é pulsante e constante, embora o autor some ao foco temático central pequenos conflitos paralelos, que não fragmentam os trabalhos, antes lhes alicerçam o todo que desenvolve. É o que chamamos nós de ?despiste?, e que Fran sempre fez tão bem.
O drama em João Redondo é um drama desesperante; o drama em Albertino é um drama angustiante; o drama em Olhos Verdes, Rosto Moreno é um drama revoltante; o drama em Um Crime é um drama trágico; o drama em O Roubo é um drama enervante; o drama em Leninha é um drama doído; o drama em Mar Oceano, que dá título ao livro, é um drama aflitivo. Temos nesta obra um colar de emoções variadas e continuadas, extraídas de criaturas da classe média e de pequenos conflitos humanos, que nos levam à evidência: Fran Martins, neste livro, jogou como quis com esses desesperos diários, que afligem o homem, na sua solidão ou em família.
Destaque em particular para os dramas das personagens infantis. João Redondo e Albertino, em particular, são duas obras-primas inigualáveis. Não é qualquer escritor de talento que sabe trabalhar com criaturas juvenis. Fran é um mestre quando põe em jogo personagens meninos e meninas em conflito e incompreensões com os adultos.
Talvez Fran Martins nunca se dera conta de que seria um excelente escritor de literatura juvenil. A literatura para jovens, no tempo da maior força criadora do autor, não despertava muito interesse, e eram poucos os que se dedicavam a ela ? à frente, Monteiro Lobato ?, e quase sempre se valiam de métodos maniqueístas. Fran, se quisesse, se lhe tivessem sugerido, se dispusesse de tempo, sabemos lá, teria sido, para além do escritor notável que foi, um excelente autor de livros para jovens. Tinha uma força criadora notável para isto. Bastaria apenas ? e para ele seria fácil ? descer um pouco a sua linguagem narrativa e descritiva. Nada mais, mais nada.
Uma prova é que, por trás deste excelente livro, vislumbra-se, em algumas histórias, como um contraespelho, a imagem de um outro Fran Martins, que não veio à tona, mas que, se viesse, viria com tudo...
São os segredos da criação.
São os mistérios da arte escrita.
Caio Porfirio Carneiro
Em Mar Oceano, o contista se apresenta de corpo inteiro, usando a sua técnica formal de desenvolver a história curta, quase sempre bordejando a novela, sem nela cair, e arrematando-a com precisão notável. Essa roupagem literária retornaria uma década depois em O Amigo de Infância. Exceção para A Análise, que encerraria sua luminosa caminhada literária, valendo-se o escritor de um como dizer original, surpreendente e fascinante.
As sete histórias que compõem Mar Oceano estão muito bem realizadas, muito bem contadas, dentro daquela maneira muito especial de narrar, sua marca inconfundível dentro da variedade ?oceânica? de estrelas de primeira grandeza da arte escrita do século que termina.
Soma-se a estes contos um dado a mais e importantíssimo, antevisto nas obras anteriores, incluindo os romances: aqui, em cada história, em cada página, a trama psicológica é pulsante e constante, embora o autor some ao foco temático central pequenos conflitos paralelos, que não fragmentam os trabalhos, antes lhes alicerçam o todo que desenvolve. É o que chamamos nós de ?despiste?, e que Fran sempre fez tão bem.
O drama em João Redondo é um drama desesperante; o drama em Albertino é um drama angustiante; o drama em Olhos Verdes, Rosto Moreno é um drama revoltante; o drama em Um Crime é um drama trágico; o drama em O Roubo é um drama enervante; o drama em Leninha é um drama doído; o drama em Mar Oceano, que dá título ao livro, é um drama aflitivo. Temos nesta obra um colar de emoções variadas e continuadas, extraídas de criaturas da classe média e de pequenos conflitos humanos, que nos levam à evidência: Fran Martins, neste livro, jogou como quis com esses desesperos diários, que afligem o homem, na sua solidão ou em família.
Destaque em particular para os dramas das personagens infantis. João Redondo e Albertino, em particular, são duas obras-primas inigualáveis. Não é qualquer escritor de talento que sabe trabalhar com criaturas juvenis. Fran é um mestre quando põe em jogo personagens meninos e meninas em conflito e incompreensões com os adultos.
Talvez Fran Martins nunca se dera conta de que seria um excelente escritor de literatura juvenil. A literatura para jovens, no tempo da maior força criadora do autor, não despertava muito interesse, e eram poucos os que se dedicavam a ela ? à frente, Monteiro Lobato ?, e quase sempre se valiam de métodos maniqueístas. Fran, se quisesse, se lhe tivessem sugerido, se dispusesse de tempo, sabemos lá, teria sido, para além do escritor notável que foi, um excelente autor de livros para jovens. Tinha uma força criadora notável para isto. Bastaria apenas ? e para ele seria fácil ? descer um pouco a sua linguagem narrativa e descritiva. Nada mais, mais nada.
Uma prova é que, por trás deste excelente livro, vislumbra-se, em algumas histórias, como um contraespelho, a imagem de um outro Fran Martins, que não veio à tona, mas que, se viesse, viria com tudo...
São os segredos da criação.
São os mistérios da arte escrita.
Caio Porfirio Carneiro