No início do século XX, em uma família da classe média parisiense, nasce Simone. Quando muito pequena, é arredia e tem ataques súbitos de irritação. Depois, quando se entrega à fé religiosa, a menina se acalma e torna-se um exemplo de filha e estudante. Mas ainda jovem vê as incongruências da religião católica, e sua formação intelectual toma outro rumo. Esse rumo culmina na adoção da filosofia existencialista e no envolvimento em causas polêmicas, como a defesa do aborto. Em Memórias de uma moça bem-comportada, conhecemos a infância e a juventude dessa menina que é ninguém menos do que Simone de Beauvoir.
Dona de um espírito inconformado e autêntico, Simone de Beauvoir nos mostra neste primeiro relato autobiográfico a sua infância religiosa, a consequente descrença e a posterior devoção à literatura. Pela leitura dessas memórias, acompanhamos a vida dessa leitora voraz desde sempre em paralelo com seus gostos literários e sua dedicação à escrita.
E entendemos como foram fundamentais os seus relacionamentos. A doce amizade com Zaza, a proximidade com sua irmã e o amor infantil por Jacques eram a alegria e a pacificação de seu coração. Mais tarde, quando fazia sua formação na Sorbonne, outras amizades lhe foram importantes: André Herbaud, o qual lhe deu o eterno apelido de Castor (pela semelhança de Beauvoir com beaver, em inglês), Stépha e, claro, Jean-Paul Sartre.
Memorialista entusiástica, Simone publicou diversas obras autobiográficas sobre tempos determinados de sua vida. Seu estilo próprio e sua constante busca pela verdade não apenas revelam a vida de uma pessoa, mas apresentam uma época vivida por um de seus grandes personagens. Sobre Memórias de uma moça bem-comportada, Simone de Beauvoir diz: ?Há uma unidade romanesca que não está presente nos volumes seguintes. Como nos romances de aprendizagem, do início ao fim o tempo transcorre com rigor.? E com rigor lemos uma das memórias mais adoráveis da literatura mundial.
?Quando encontrei Simone de Beauvoir, tive a impressão de ter com ela as melhores relações que se possa ter com alguém. As mais completas. Éramos um igual ao outro, não podíamos imaginar outra coisa. Eu tinha encontrado uma mulher igual ao que eu era como homem.? ? Jean-Paul Sartre