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    Mulheres

    Por Eduardo Galeano
    Existem 15 citações disponíveis para Mulheres

    Sobre



    Galeano tornou-se internacionalmente famoso com o livro Veias Abertas da América Latina, um verdadeiro clássico de denúncia da opressão e exploração da América Latina. Neste livro, temos uma magnífica prova da fascinante prosa de Galeano. Numa seleção de textos do próprio autor encontramos aqui textos que são uma verdadeira homenagem às mulheres ? célebres e anônimas ? da America Latina.
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    Citações de Mulheres

    – Os direitos humanos deveriam começar em casa – comenta comigo, no Chile, Andrés Domínguez.

    Ela dança porque dançando goza, e dança o que quer, quando quer e como quer, e as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.

    Na mulher que pensa, os ovários secam. Nasce a mulher para produzir leite e lágrimas, não idéias;

    Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo.

    Elas condenam seus homens ao incomparável tormento de sentir ciúmes dos deuses.

    Resplandecentes e redondas como balas de canhão, oferecem aos deuses seus corpos amplos, que parecem casas onde dá prazer chegar e ficar. Nelas entram os deuses, e nelas dançam. Das mãos das sacerdotisas possuídas o povo recebe ânimo e consolo; e de suas bocas escuta as vozes do destino.

    Na mulher que pensa, os ovários secam. Nasce a mulher para produzir leite e lágrimas, não idéias; e não para viver a vida e sim para espiá-la por trás da persiana. Mil vezes explicaram isso a ela e Alfonsina Stormi não acreditou nunca.

    Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro.

    AS MULHERES DOS DEUSES Ruth Landes, antropóloga norte-americana, vem ao Brasil em 1939. Ela quer conhecer a vida dos negros num país sem racismo. No Rio de Janeiro, é recebida pelo ministro Osvaldo Aranha. O ministro explica a ela que o governo se propõe a limpar a raça brasileira, suja de sangue negro, porque o sangue negro tem a culpa do atraso nacional. Do Rio, Ruth viaja para a Bahia. Os negros são ampla maioria nesta cidade, onde outrora tiveram seu trono os vice-reis opulentos de açúcar e de escravos, e negro é tudo o que aqui vale a pena, da religião até a comida, passando pela música. E mesmo assim, na Bahia todo mundo acha, e os negros também, que a pele clara é prova de boa qualidade. Todo mundo, não: Ruth descobre o orgulho da negritude nas mulheres dos templos africanos. Nesses templos são quase sempre mulheres, sacerdotisas negras, que recebem em seus corpos os deuses vindos da África. Resplandecentes e redondas como balas de canhão, oferecem aos deuses seus corpos amplos, que parecem casas onde dá prazer chegar e ficar. Nelas entram os deuses, e nelas dançam. Das mãos das sacerdotisas possuídas o povo recebe ânimo e consolo; e de suas bocas escuta as vozes do destino. As sacerdotisas negras da Bahia aceitam amantes, não maridos. O casamento dá prestígio, mas tira a liberdade e a alegria. Nenhuma se interessa em formalizar o casamento frente ao padre ou ao juiz: nenhuma quer ser esposada esposa, senhora fulano. Cabeça erguida, lânguido balançar: as sacerdotisas se movem como rainhas da Criação. Elas condenam seus homens ao incomparável tormento de sentir ciúmes dos deuses.

    E quando chega a noite, enquanto seu marido dorme, você vira de costas e sonha que desperta.

    E desde então você o vê com os olhos abertos, em tudo que olha, e o vê com os olhos fechados, em tudo que pensa; e o toca com seus olhos.

    e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.

    As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas: elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem.

    O AMOR Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas. – Te cortaram? – perguntou o homem. – Não – disse ela. – Sempre fui assim. Ele examinou-a de perto. Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta. Disse: – Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amadurecer. Eu te curarei. Deita na rede, e descansa. Ela obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e se deixou aplicar as pomadas e os ungüentos. Tinha de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia: – Não te preocupes. Ela gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum, estendida em uma rede. A memória das frutas enchia sua boca de água. Uma tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava: – Encontrei! Encontrei! Acabava de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore. – É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher. Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha.

    O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.

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