Há ali uma possibilidade de amor. Já sequei as lágrimas pelos caminhos da desilusão. Vivi amores e desamores que geraram cada uma das cicatrizes que apresento. Sou capaz de contar a ele, sem hesitar, cada história atrás de cada cicatriz. Encaro as dores sem medo porque nem dores mais são. Consigo dizer a ele: veja, construíram o que sou. Resolvida e resoluta afirmo sem lamúrias: são parte de mim e as viveria novamente se fosse preciso, para chegar até aqui. Dos sonhos naufragados, dos beijos negados, dos orgasmos fingidos, direi a ele sem pudor: os tive. Me entreguei ao primeiro sinal de queda e quedei ao primeiro sinal de compaixão. Ele precisará entender que fui fraca, que fui forte, que fui inclusive e muitas vezes algo que de mim envergonho. Vou contar dos copos que quebrei, das mentiras que aceitei e revelarei com altivez todas as vezes em que apanhei sem que me tocassem. Há ali uma possibilidade de amor e eu quero que ele saiba, por mim, os caminhos que enfrentei para chegar até aqui, os amores que acreditei para chegar até aqui, às vezes em que precisei morrer e ressuscitar para chegar até aqui. Ele vai, inclusive, saber com detalhes de cada morte minha. E a despeito de fingir-me forte, serei capaz de revelar sem censura cada arma e palavra que são capazes de me matar. Não terei medo. Ele não terá medo de saber de mim.
Eu estou inteira. Ele está inteiro. Agora podemos nos completar.
Eu estou inteira. Ele está inteiro. Agora podemos nos completar.