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O brilho do bronze: Um diário

Name: O brilho do bronze: Um diário
Author: Boris Fausto

Por Boris Fausto

Existem 14 citações disponíveis para O brilho do bronze: Um diário

Sobre

Diante da morte da esposa, com quem foi casado por 49 anos, o historiador Boris Fausto decide revisitar um hábito da juventude e escreve um diário. A princípio voltado a reflexões dolorosas acerca do luto, os escritos pouco a pouco se abrem para o cotidiano concreto, ainda que envolto pela marca da ausência. O resultado revela um olhar crítico e atento à vida contemporânea, permeado pelo senso de humor inabalável do autor.
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Biografias

Carlos comenta como é difícil e ao mesmo tempo necessário esse tipo de relação vertical, ainda tão comum no Brasil, em que o mando prevalece sobre uma relação contratual.

Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

“Alma minha gentil que te partiste/ tão cedo desta vida descontente/ não te esqueças daquele amor ardente/ que já nos olhos meus tão puro viste”.

Já passei por situações como essa e fico pensando de que cabeças iluminadas saiu a ideia de infantilizar os idosos, como se a morte à espreita nos fizesse recuar, ilusoriamente, à condição de criança.

– Olha, dotor Boris, eu não sei muito bem, mas acho que o saci desapareceu e já não se vê hoje, como também não se vê a mula sem cabeça. Isso não é prova que inventaram o saci. Não existiram tantos bichos no mundo que agora não existem mais?

Os cinco arrependimentos mais comuns, listados por ela, são: não ter vivido a vida que se desejava, mas a que os outros desejavam que se vivesse; ter trabalhado demais; não ter tido coragem de expressar os próprios sentimentos; ter estado distante dos amigos; não ter sabido ser mais feliz.

Ao longo dos anos, perdi carros, objetos, voos em viagens internacionais. O valor de cada perda tem pouco a ver com o prejuízo monetário, e sim com o grau de ansiedade ou de angústia provocado por cada perda. Às vezes, perder um objeto insignificante pode dizer mais do que a perda de algo aparentemente inestimável. Perder a hora pode ser bem mais grave do que perder um bem material.

Releio desordenadamente as memórias que Oswald de Andrade começou, mas não concluiu, cortado pela morte. Nas primeiras páginas há um trecho em que ele diz: “Às vezes acordava na larga cama de meus pais. Dormia no meiinho. Um cheiro bom de café fazia voltar-me”. Também o Carlos e o Sergio, rotativamente, dormiram na nossa cama. De onde eu, Cynira ou um dos meninos tirou a mesma expressão usada por Oswald: “meinho”? Do livro? Não sei. Mas eram lindos os tempos do meinho.

Caminho pelas vias e pelo gramado, assinalo o contraste entre as lápides bem polidas, enfeitadas com muitas flores, e as que perderam a cor brilhante, substituída por um melancólico cinza. Ao vê-las, reforço a certeza da finitude que a todos espera, como se, pelo contrário, o brilho do bronze fosse uma prova de vida.

Às vezes, perder um objeto insignificante pode dizer mais do que a perda de algo aparentemente inestimável. Perder a hora pode ser bem mais grave do que perder um bem material.

“Estou preparado para a morte, mas não tenho pressa”. Da minha parte, pressa também não tenho. Algum dia estarei preparado?

Meu pai, assim como toda a minha família, sempre incentivou os jovens a estudar com afinco. Era corriqueiro se dizer, com outras palavras, que “o preparo ninguém tira” e, diferentemente da riqueza, nos acompanha para qualquer parte do mundo.

Quando olho, pela manhã, um céu azul sem nuvens, exclamo baixinho para que não me tomem por louco: – Oh, que dia mais taful!

Falo com ela, como se minha voz pudesse acordá-la do sono eterno (expressão horrível): digo da minha saudade, que em casa tudo está bem e até peço alguns conselhos. Derramo lágrimas amargas.