Contemplou a graça em todas as coisas, e por meio de todas as coisas a graça o alcançou, e seduziu, e enfeitiçou com o feitiço da poesia da vida.
Mais seguro é domesticar a realidade, usar o poder criativo para adestrar a realidade, criar rotinas, certezas matemáticas, previsibilidades. Mas para isso é preciso, primeiro, subjugar a verdade, estabelecer seus limites, impor-lhe fronteiras que estejam ao alcance dos olhos, dentro do estreito território do raciocínio. A verdade não pode ser infinita, horizonte que se move à medida que avançamos. Ela tem de ter limites para que eu possa possuí-la, cercá-la como se faz com a terra de que se toma posse, para que seja minha. Tem de ter conclusão, palavra final, ponto final.
Porque confundimos nossa vontade de autorrealização, nosso anseio criativo de nos metamorfosearmos para cumprir o nosso potencial, com uma vontade de dominação.
Porque à nossa covardia, ao nosso amedrontamento ante a grandeza do Mistério, pareceu mais seguro e confortável dominar do que libertar, sobretudo, do que nos libertar.
No invisível e no silêncio há magia, neles habita um poder de reencantamento com a vida… Por isso não se vê Deus por aí, feito relâmpago a rasgar o céu, nem se ouve Deus, feito trovão a cortar as nuvens… Mas se pode encontrá-lo naquilo que está morto pra gente.
