"A literatura tradicionalmente se diferencia das artes do espetáculo por seu caráter diferido: escrever sempre foi (pelo menos desde a instituição da literatura como prática ligada à publicação de livros) erigir os fundamentos de uma experiência projetada para um futuro indeterminado --- o momento incerto em que alguém (plausivelmente um desconhecido) lerá o texto. À diferença de uma palestra ou de uma performance, em que os gestos e as ações são lançados quase imediatamente à percepção da plateia, a literatura inventa um espaço próprio (uma heterotopia?) que não é propriamente a página escrita, mas um lugar imaginário, na confluência entre o desígnio do autor e a liberdade do leitor, um espaço íntimo irredutível aos polos opostos da presença e da ausência. Por isso é quase sempre desconcertante encontrar um escritor fora do livro: como ocorre frequentemente ao assistirmos adaptações para o cinema de romances que amamos, olhamos para aqueles rostos, ouvimos aquelas vozes, e não podemos deixar de sentir que há uma lacuna entre o autor que inventamos e o que temos diante de nós. Porque o autor é a primeira personagem".
O escritor fora do livro
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