Do lado de lá do retângulo, as mulheres da esquerda untavam as formas, amassavam o recheio, moldavam coxinhas e pastéis de carne, e as moças da direita batiam peixe, vermelho e tainha, na tábua de pedra, depois cravavam o sal grosso nas escamas. O peixe. Levanta, sacode e bate. Largam a mão na pedra e agarram de novo o rabo. O peixe frio, o peixe pedra, o peixe bem morto nas mãos das mulheres. Fariam tortas de tainha para o horário do almoço, na chegada das embarcações no cais. Fariam bolos sem espinhos, ririam e beberiam suco de limão à vontade com os homens do mar, os braços e tatuagens de índia. Mas ainda não eram nem nove horas da manhã, e tudo movia-se no futuro logo ali, perto do meio-dia.
Este é O Estrangeiro na Gaiola, romance de estreia da escritora, documentarista e cineasta MANU SOBRAL (foi ela quem dirigiu o curta-metragem Hotel Trombose, baseado no romance homônino de FELIPE VALÉRIO, também cria aqui de casa).
Este é O Estrangeiro na Gaiola, romance de estreia da escritora, documentarista e cineasta MANU SOBRAL (foi ela quem dirigiu o curta-metragem Hotel Trombose, baseado no romance homônino de FELIPE VALÉRIO, também cria aqui de casa).