Para além da mera representação da sociedade, o palco trovadoresco dos paços do Portugal e da Castela trecentistas desempenhava fundamentalmente o papel de um ‘laboratório de experiências sociais’. Um laboratório que também atendia aos desígnios do projeto centralizador dos monarcas ibéricos. Por ali, o rei podia conhecer toda a sociedade que pretendia governar. Conhecer para controlar.
O papel do jogral desclassificado era de suma importância neste laboratório de experiências sociais. Através dele, o monarca tinha acesso a informações que de outra forma lhe seriam ocultadas. Informações vindas de fora do Paço, mas também de dentro do seu próprio círculo de poder, no qual a bajulação e a hipocrisia por vezes ocultavam do rei dados vitais para corrigir os descaminhos do seu governo, avaliar forças em oposição, compreender demandas e medir descontentamentos.
Era somente abrindo-se ao escárnio que o monarca podia enxergar a si mesmo. E foi convocando os poetas marginalizados, ao introduzi-los na função satírica, que ele conseguiu superar os constrangimentos da hierarquia por demais respeitosa. O “jogral atrevido” era uma “palavra perdida”, um elemento de perturbação necessária, ou a substância estranha contra a qual reagiam os elementos aristocráticos da corte. Era ainda uma espécie de “catalisador” que jogava uns contra os outros, ou os forçava a combinarem-se entre si.
O Jogo do Poder entre os Trovadores Ibéricos
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