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    O mar

    Por John Banville
    Existem 11 citações disponíveis para O mar

    Sobre

    Escrito pelo irlandês John Banville, O mar, vencedor do Man Booker Prize em 2005, costura memória e ficção de modo indissociável, investigando as sensações em suas reveladoras minúcias, e em um inventário infinito que quase prescinde ? como modernamente se prescinde ? do fio narrativo ele mesmo. Desenvolvido de modo relutante em primeira pessoa (Banville tentara, antes, a terceira pessoa), a do crítico de arte Max Morden, que oscila de modo irregular entre passado e presente, infância, idade adulta e velhice, entrelaçados às visitas a The Cedars, casa de veraneio alugada por seus pais em Ballyless, local imaginário na Irlanda, nas duas partes em que vem dividido o romance.

    Embora haja idas e vindas temporais, o livro é a memória do homem já idoso, após perder a esposa Anna: o tempo se distende para englobar a infância repleta de um fulgor selvagem, o peso emocional e existencial desconcertante do período da doença da mulher, para encontrar Morden revisitando The Cedars com a filha Claire, e para registrar o período final com Mme. Vavasour e seu inquilino, um coronel aposentado, em momentos que proporcionam não apenas ajustes emocionais entre os personagens, mas memórias proustianamente disparadas pelos sentidos. Referências à arte perpassam o livro, ilustrando a percepção do personagem principal, mas há sobretudo a obra de Pierre Bonnard, a favorita de Morden, aludida em toda parte, criando um paralelo entre arte e vida mais complexo do que o velho clichê.

    Assim, Morden rememora longamente o despertar erótico na infância, ligado à família Grace, que também frequentava The Cedars: o pai Carlo, um tipo caracterizado quase como um sátiro (?marido caprino?, Banville descreve a certa altura), a mãe Connie, voluptuosa e de uma vulgaridade sensual, os filhos maliciosos e naturais, Chloe, Myles (gêmeos, e o garoto, mudo), e Rose (como uma babá das crianças), pessoas de classe média alta a quem o mais pobre Morden chega a se ligar por laços de amizade e amor, e a quem acompanha nos passeios de família no litoral. Banville constrói e desenvolve suas cenas com apuro visual em descrições e comparações, claramente empenhado em tornar visíveis para o leitor suas notáveis paisagens imaginárias, dotadas de um realismo sensorial que se pode dizer poético, pela concisão e pela imaginação de seus métodos.

    O mar assume papel múltiplo e opera como um personagem: é tanto o condutor da narrativa líquida e aparentemente informe, como também é o receptáculo daquelas presenças, e as reúne numa espécie de momento mágico que se estende da juventude à velhice, quando a agitação da vida cede a uma solidão de encontro com fantasmas. O mar é ambas as coisas, assim: solar e terrível na infância, e companheiro outonal da velhice de Max Morden, fazendo eclodir também um mar de memórias que compõe prazer e tragédia, na duvidosa exatidão do passado na memória.
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    Citações de O mar

    Imagina-se que a vida, a vida autêntica, seja toda luta, ação e afirmação infatigáveis, a vontade arremetendo com a cabeça rombuda contra os portões do mundo, ou coisa do tipo, mas quando olho para trás vejo que a maior parte das minhas energias sempre foi despendida na simples procura de um abrigo, de consolo, de, sim, admito, conforto.

    Por que na infância tudo de novo que atraía meu interesse tinha uma aura sobrenatural, já que de acordo com todas as autoridades o sobrenatural não é uma coisa nova, mas uma coisa conhecida que retorna numa forma diferente, transformada num espectro?

    A vida inteira talvez não seja mais que uma longa preparação para deixá-la.

    Carregamos os mortos conosco só até morrermos nós também, e então nós é que somos carregados por algum tempo até nossos carregadores tombarem por sua vez, e assim por diante inimagináveis gerações afora.

    Não cogito da possibilidade de uma vida após a morte, ou de qualquer divindade capaz de proporcioná-la. Tendo em vista o mundo que ele criou, seria uma heresia contra Deus acreditar em sua existência.

    Os lábios de Chloe eram frescos e secos. Senti o sabor de seu hálito urgente. Quando finalmente com um estranho suspiro sibilante ela afastou o rosto do meu, um tremor cálido percorreu a minha espinha, como se alguma coisa quente dentro de mim se tivesse liquefeito escorrendo pelo oco da coluna abaixo.

    Não cogito da possibilidade de uma vida após a morte, ou de qualquer divindade capaz de proporcioná-la. Tendo em vista o mundo que ele criou, seria uma heresia contra Deus acreditar em sua existência. Não,

    Não, foi uma piscadela camarada, conspiratória, quase maçônica, como se aquele momento que nós, dois desconhecidos, adulto e menino, tínhamos compartilhado, embora aparentemente desprovido de sentido, ou até de conteúdo, ainda assim tivesse algum significado.

    Sua puta, sua puta de merda, como é que tem coragem de ir embora e me deixar aqui assim, me debatendo com a minha própria vileza, sem ninguém além de mim mesmo para me salvar. Como é que tem coragem.

    De uma hora para a outra ela não era mais que um imenso torso arcaico e sem vida, a efígie caída de alguma deusa que a tribo não adorava mais e tinha tombado no chão, um

    Uma criatura com tantos relevos e protuberâncias de carne não devia se agitar tanto assim, isso acaba prejudicando alguma coisa lá dentro, algum arranjo delicado de tecido adiposo e cartilagens peroladas. Seu

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