Conto do Marquês de Sade, com versão recontextualizada por Welington Almeida Pinto. Ensaio produzido numa linguagem para o seu aparelho de mídia virtual com apuro técnico, dicção própria e atenção ao discurso. A narrativa se desenvolve explorando o relacionamento apimentado de um sacerdote do Convento de Saint-Hilaire com a esposa de um magistrado da cidade de Menerbe, no condado de Avinhão, em Provença.
O escritor francês, Donatien Alphonse François - Paris 1740 ? Charenton 1814 - ainda é um dos mais lidos do mundo do gênero obsceno, tanto que recebeu de artistas surrealistas como Salvador Dali o apelido de ?divino?, pelas obras escritas com exímia técnica que mostram seu universo criativo e pessoal com profunda lealdade.
História curta, enxuta, que mescla realidade e ficção com a qual, quem lê, possa se identificar e transformá-la em um fabuloso palco de reflexões. Mexe com a emoção do leitor, principalmente, quando atento às palavras que revelam as intenções veladas dos personagens, envoltas por uma causa secreta. O ensaio mostra a fantástica capacidade do autor em compor retratos psicológicos e sondar assustadoras profundidades interiores do ser humano.
Todo bom texto provoca alterações no corpo e na cabeça de quem lê, principalmente, quando agrega dentro das palavras sabores inusitados, que revelam como a sutil compreensão humana ressalta das páginas de O Marido Padre, ou melhor o marido traído. Dá vontade de ler? Então leia.
Obs.: Machado de Assis colocou o gênero conto entre as obras primas da literatura brasileira.
Trecho. O ensaio começa assim:
Entre a cidade de Menerbe, no condado de Avinhão, e a de Apt, em Provença, encontra-se o Convento de Saint-Hilaire, construído no cimo de uma montanha onde, até mesmo às cabras, é difícil o pasto. Esse modesto recinto de frades é como a cloaca de todas as comunidades vizinhas. Lá frequentam almas que o mundo rejeita, como bêbados, devassos, sodomitas, jogadores, reclusos que, nesse asilo escandaloso, o quanto podem ofertam a Deus ? eis todo o mundo desses bons religiosos que, malgrado a batina e a condição, não estavam longe de encontrar abertas todas as portas desse eremitério de quantos estão à sua volta.
Há muito o padre Gabriel, um dos santos do Convento de Saint-Hilaire, cobiçava certa mulher de Menerbe, cujo marido, um rematado corno, chamava-se Rodin. A esposa dele era uma moreninha, de vinte e oito anos, que reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, como por exemplo, o olhar leviano, colo, braços e bustos brancos de formas cheias e palpitantes de beleza, que inspiravam amor - aparências que favoreciam um majestoso banquete para o monge. Tanto é assim que, diante de lauto odor di femmina, a alma do padreco virava o juízo e a curiosidade fustigava-lhe o sangue e a carne.
Por outro lado, o senhor Rodin era um homem bom. Negociante de tecidos, magistrado, um burguês honesto. Contudo, não muito seguro das virtudes de sua cara-metade, era ele sagaz o bastante para saber que o verdadeiro modo de se opor às protuberâncias que podem ornar a cabeça de um marido é dar mostras de não desconfiar dos corneados. Como estudou em Seminário e falava latim como Cícero, frequentemente, ele disputava o Jogo de Damas com o padre Gabriel que, cortejador astuto e amável, sabia da necessidade e precisão de adular um pouco o marido de cuja mulher se deseja possuir.
Esse padre Gabriel era um verdadeiro modelo dos filhos de Elias. Dir-se-ia que toda a raça humana poderia, tranquilamente, contar com seu aparelho reprodutor para se multiplicar. Tinha o homem porte de um legítimo rufião: sobrancelhas como as de Júpiter, largas espáduas, seis pés de altura e aquilo que é a característica principal, feito segundo os moldes dos mais belos jumentos da província. A que mulher um libertino assim não haveria de agradar, soberbamente?
Desse modo, o padreco se prestava de maneira extraordinária aos propósitos da senhora Rodin, que estava muito longe de encontrar tão nobr
O escritor francês, Donatien Alphonse François - Paris 1740 ? Charenton 1814 - ainda é um dos mais lidos do mundo do gênero obsceno, tanto que recebeu de artistas surrealistas como Salvador Dali o apelido de ?divino?, pelas obras escritas com exímia técnica que mostram seu universo criativo e pessoal com profunda lealdade.
História curta, enxuta, que mescla realidade e ficção com a qual, quem lê, possa se identificar e transformá-la em um fabuloso palco de reflexões. Mexe com a emoção do leitor, principalmente, quando atento às palavras que revelam as intenções veladas dos personagens, envoltas por uma causa secreta. O ensaio mostra a fantástica capacidade do autor em compor retratos psicológicos e sondar assustadoras profundidades interiores do ser humano.
Todo bom texto provoca alterações no corpo e na cabeça de quem lê, principalmente, quando agrega dentro das palavras sabores inusitados, que revelam como a sutil compreensão humana ressalta das páginas de O Marido Padre, ou melhor o marido traído. Dá vontade de ler? Então leia.
Obs.: Machado de Assis colocou o gênero conto entre as obras primas da literatura brasileira.
Trecho. O ensaio começa assim:
Entre a cidade de Menerbe, no condado de Avinhão, e a de Apt, em Provença, encontra-se o Convento de Saint-Hilaire, construído no cimo de uma montanha onde, até mesmo às cabras, é difícil o pasto. Esse modesto recinto de frades é como a cloaca de todas as comunidades vizinhas. Lá frequentam almas que o mundo rejeita, como bêbados, devassos, sodomitas, jogadores, reclusos que, nesse asilo escandaloso, o quanto podem ofertam a Deus ? eis todo o mundo desses bons religiosos que, malgrado a batina e a condição, não estavam longe de encontrar abertas todas as portas desse eremitério de quantos estão à sua volta.
Há muito o padre Gabriel, um dos santos do Convento de Saint-Hilaire, cobiçava certa mulher de Menerbe, cujo marido, um rematado corno, chamava-se Rodin. A esposa dele era uma moreninha, de vinte e oito anos, que reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, como por exemplo, o olhar leviano, colo, braços e bustos brancos de formas cheias e palpitantes de beleza, que inspiravam amor - aparências que favoreciam um majestoso banquete para o monge. Tanto é assim que, diante de lauto odor di femmina, a alma do padreco virava o juízo e a curiosidade fustigava-lhe o sangue e a carne.
Por outro lado, o senhor Rodin era um homem bom. Negociante de tecidos, magistrado, um burguês honesto. Contudo, não muito seguro das virtudes de sua cara-metade, era ele sagaz o bastante para saber que o verdadeiro modo de se opor às protuberâncias que podem ornar a cabeça de um marido é dar mostras de não desconfiar dos corneados. Como estudou em Seminário e falava latim como Cícero, frequentemente, ele disputava o Jogo de Damas com o padre Gabriel que, cortejador astuto e amável, sabia da necessidade e precisão de adular um pouco o marido de cuja mulher se deseja possuir.
Esse padre Gabriel era um verdadeiro modelo dos filhos de Elias. Dir-se-ia que toda a raça humana poderia, tranquilamente, contar com seu aparelho reprodutor para se multiplicar. Tinha o homem porte de um legítimo rufião: sobrancelhas como as de Júpiter, largas espáduas, seis pés de altura e aquilo que é a característica principal, feito segundo os moldes dos mais belos jumentos da província. A que mulher um libertino assim não haveria de agradar, soberbamente?
Desse modo, o padreco se prestava de maneira extraordinária aos propósitos da senhora Rodin, que estava muito longe de encontrar tão nobr