Para coibir a prática de charlatanismo por parte dos terapeutas, o Estado francês resolveu reagir, com o que ficou conhecido como 'emenda Accoyer' à Constituição. Numa 'parceria' polêmica, cabe agora às instituições PSI que abrigam psiquiatras, psicanalistas, psicólogos e psicoterapeutas informar ao Estado quais os profissionais legalmente habilitados a exercer o ofício.Mas o que é um charlatão e por que um Estado deveria se arvorar a saber quem tem e quem não tem direito de se ocupar do sofrimento da alma? Partindo desse ponto, Elisabeth Roudinesco coloca em pauta temas cruciais tanto para o universo PSI quanto para a cultura contemporânea.Seja na defesa intransigente de princípios como a 'laicidade' da psicanálise, seja na investida inflexível contra a 'medicalização' da saúde mental ou as 'avaliações técnicas' em voga nos círculos acadêmicos (idem no Brasil), a autora se pergunta: Quem seria responsável por avalizar os profissionais? Indicado por quem? De que formação ou tendência? O alinhamento da psicanálise a outras formas de tratamento seria uma atitude científica, ou mesmo sensata?Embora parta de um fato político localizado e de uma preocupação supostamente restrita às profissões PSI, esse livro ultrapassa essas fronteiras, penetrando em território bem mais amplo: a discussão do papel do Estado no mundo globalizado.
O paciente, o terapeuta e o estado
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