We love eBooks

    O Pecado de Porto Negro

    Por Norberto Morais
    Existem 23 citações disponíveis para O Pecado de Porto Negro

    Sobre

    Um romance secreto e proibido que mudará para sempre a vida dos seus protagonistas?
    Em Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho. O seu sucesso junto do sexo oposto enche, aliás, de inveja aqueles a quem a sorte nunca bateu à porta, sobretudo o enfezado Rolindo Face, que há muito alimenta esperanças no amor de Ducélia Trajero ? a filha que o patrão açougueiro guarda como um tesouro. Mas eis que, no dia em que ensaiava pedir a sua mão, assiste sem querer a um pecado impossível de perdoar que acabará por alterar a vida de um sem-número de porto-negrinos, entre os quais a da própria mãe; a de um foragido da justiça que vive um amor escondido para se esquecer do passado; a de Cuménia Salles, a dona do Chalé l?Amour, a mais afamada casa de meninas da cidade; ou a de Chalila Boé, um mulato adamado que, nas desertas horas da madrugada, se perde pelo porto à procura do amor.O Pecado De Porto Negro, obra finalista do Prémio LeYa, é um mosaico de histórias que se vão encadeando para construir um romance admirável sobre o carácter circular do destino e a capacidade que o passado tem de nos vir bater à porta quando menos esperamos.Norberto Morais é conterrâneo de Hermann Hesse, tendo nascido numa pequena cidade da Floresta Negra, Calw, em 1975. Aos seis anos, foi viver para Marinhais, em Portugal, onde traçou as primeiras linhas sem jamais considerar a palavra «escritor» e donde saiu em 1996 para ir estudar Psicologia em Lisboa. Licenciou-se no ISPA, foi voluntário na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, frequentou o Hot Club e teve uma banda, na qual era vocalista, letrista e compositor. Em 2002, quando tudo estava preparado para que fosse músico ou psicólogo, sentou-se um dia à secretária e a vida trocou-lhe as voltas. Uns meses mais tarde compreendia que, mal ou bem, estava condenado a escrever para o resto da vida. Publicou o seu primeiro romance, Vícios de Amor, em 2008, na Oficina do Livro. Actualmente vive em Paris.
    Baixar eBook Link atualizado em 2017
    Talvez você seja redirecionado para outro site

    Definido como

    Listados nas coleções

    Citações de O Pecado de Porto Negro

    Havia na rapariga uma entrega e um desprendimento que não sabia ainda digerir. Onde aprendera ela a dar-se e ir-se com a mesma verdade, e com a mesma verdade voltar no dia seguinte para se dar outra vez? Não era paixão nem vício; não era ignorância nem lascívia. Era qualquer coisa de bicho da terra com asas de beija-flor. De onde quer que lhe viesse a natureza, era a natureza dada e desprendida dela que o mantinha a ele tão fiel e preso quanto poderia ser. Era estranha a rapariga. Mas parecia começar a gostar dela.

    Além do mais, é a melhor lição que pode dar àquele cobarde. Pois outro nome não tem um homem que se deita com uma mulher e sai para a rua a alardear aos quatro ventos o belo feito que foi desflorar uma inocente.

    jamais a eternidade tão tentada e tão provocadas as leis do Universo, como naquela noite em que uma filha de açougueiro e um estivador da doca encarnaram num corpo só todas as forças da Natura Mater. Por fim, quando os corpos pararam, Ducélia sentiu que o mundo continuava a rodar, a rodar, numa valsa de entontecer, e só teve tempo de virar o rosto para deitar pela boca toda a fantasia da noite. Santiago levou-a à varanda, ajudou-a livrar-se da demasia. Ducélia gemia. Queria deitar-se, dormir. Santiago insistia em mantê-la acordada, de pé, andando de um lado para o outro do salão. Buscou água, lavou-lhe a cara, disse: – É normal, franguinha. Não tenhas medo. Agora tens é de andar.

    Sentira-o feliz uma única vez, ao vê-lo entrar para a irmandade e tão inconformado quanto a mãe quando anunciara o abandono do hábito. De repente, a imagem do irmão no porto de Antipuara passando-lhe para a mão uma cédula pessoal com uma vida

    um olhar no meio da multidão, a mudar o rumo da sua vida, a rota dos planetas que desde muito cedo estavam alinhados por Deus e por dona Ignáccia Iguain. Um instante, um olhar… a mais pequena porção de tempo, chega para perverter uma religião inteira, e que César Tancredo compreendeu de imediato, ou os planetas dentro dele, conter toda a tragédia, toda a força da gravidade, todo o veneno que haveria de o matar, porque naqueles olhos estava já a sua morte escrita, a sentença de que não valeria a pena fugir; a visão profunda do Abismo; a gargalhada do Diabo, que sabe mais da fraqueza dos homens do que Deus, porque

    raiva fê-la querer viver. Sete dias depois chegava a Porto Negro, disposta a tudo, até a ser uma mulher honrada. Deu em puta e jurou não mais se entregar a ninguém.

    E o sangue de um homem não limpa a honra de outro. Talvez a vingue, mas isso é coisa diferente.

    Dirão, os que mais distintos se julgam, que «os homens distintos não vão às putas», mas com homens que muito distintos se dizem tenha-se devido cuidado e um pé atrás. Sentou-se,

    Mas, se alguém quiser ir, é melhor levar logo a trouxa aviada, que isto aqui não é um lar de carpideiras, e o que não falta nesta terra são putas!

    Antes ser puta a vida toda do que tua mulher por um dia!

    Compreendiam-se, dispensando verbos, que o silêncio, quando bem dito, não deixa nada por dizer.

    Se toda a morte fosse assim – disse uma ocasião um fazendeiro das redondezas –, nunca se teria inventado a religião.

    Havia na rapariga uma entrega e um desprendimento que não sabia ainda digerir. Onde aprendera ela a dar-se e ir-se com a mesma verdade, e com a mesma verdade voltar no dia seguinte para se dar outra vez? Não era paixão nem vício; não era ignorância nem lascívia. Era qualquer coisa de bicho da terra com asas de beija-flor. De onde quer que lhe viesse a natureza, era a natureza dada e desprendida dela que o mantinha a ele tão fiel e preso quanto poderia ser. Era estranha a rapariga. Mas parecia começar a gostar dela.

    naquela hora de solidão, sentindo a falta do seu silêncio – diferente do silêncio da sua falta –, teve a certeza de haver sido feliz, sem no entanto o ter notado.

    jamais a eternidade tão tentada e tão provocadas as leis do Universo, como naquela noite em que uma filha de açougueiro e um estivador da doca encarnaram num corpo só todas as forças da Natura Mater. Por fim, quando os corpos pararam, Ducélia sentiu que o mundo continuava a rodar, a rodar, numa valsa de entontecer, e só teve tempo de virar o rosto para deitar pela boca toda a fantasia da noite. Santiago levou-a à varanda, ajudou-a livrar-se da demasia. Ducélia gemia. Queria deitar-se, dormir. Santiago insistia em mantê-la acordada, de pé, andando de um lado para o outro do salão. Buscou água, lavou-lhe a cara, disse: – É normal, franguinha. Não tenhas medo. Agora tens é de andar.

    Além do mais, é a melhor lição que pode dar àquele cobarde. Pois outro nome não tem um homem que se deita com uma mulher e sai para a rua a alardear aos quatro ventos o belo feito que foi desflorar uma inocente.

    um olhar no meio da multidão, a mudar o rumo da sua vida, a rota dos planetas que desde muito cedo estavam alinhados por Deus e por dona Ignáccia Iguain. Um instante, um olhar… a mais pequena porção de tempo, chega para perverter uma religião inteira, e que César Tancredo compreendeu de imediato, ou os planetas dentro dele, conter toda a tragédia, toda a força da gravidade, todo o veneno que haveria de o matar, porque naqueles olhos estava já a sua morte escrita, a sentença de que não valeria a pena fugir; a visão profunda do Abismo; a gargalhada do Diabo, que sabe mais da fraqueza dos homens do que Deus, porque

    raiva fê-la querer viver. Sete dias depois chegava a Porto Negro, disposta a tudo, até a ser uma mulher honrada. Deu em puta e jurou não mais se entregar a ninguém.

    E o sangue de um homem não limpa a honra de outro. Talvez a vingue, mas isso é coisa diferente.

    Sentira-o feliz uma única vez, ao vê-lo entrar para a irmandade e tão inconformado quanto a mãe quando anunciara o abandono do hábito. De repente, a imagem do irmão no porto de Antipuara passando-lhe para a mão uma cédula pessoal com uma vida

    Mas, se alguém quiser ir, é melhor levar logo a trouxa aviada, que isto aqui não é um lar de carpideiras, e o que não falta nesta terra são putas!

    Dirão, os que mais distintos se julgam, que «os homens distintos não vão às putas», mas com homens que muito distintos se dizem tenha-se devido cuidado e um pé atrás. Sentou-se,

    Antes ser puta a vida toda do que tua mulher por um dia!

    Relacionados com esse eBook

    Navegar por coleções eBooks similares