O sentido de um fim
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Algum inglês disse que o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro.
“A história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação.”
Mas o tempo… como o tempo primeiro nos prende e depois nos confunde. Nós achamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo prudentes. Nós imaginamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo apenas covardes. O que chamamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas em vez de encará-las. O tempo… nos dá tempo suficiente para que nossas decisões mais fundamentadas pareçam hesitações, nossas certezas, meros caprichos.
A história não se resume às mentiras dos vencedores, como um dia afirmei com tanta desenvoltura ao Velho Joe Hunt; eu sei disso agora. Ela é feita mais das lembranças dos sobreviventes, que, geralmente, não são nem vitoriosos nem derrotados.
História é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação.
Quantas vezes nós contamos a história da nossa vida? Quantas vezes nós ajustamos, embelezamos, editamos espertamente? E quanto mais longa a vida, menos são os que ainda estão por perto para nos contradizer, para nos lembrar que nossa vida não é a nossa vida, mas apenas a história que nós contamos a respeito da nossa vida. Contamos para outros, mas — principalmente — para nós mesmos.
JULIAN BARNES é um dos mais elogiados escritores ingleses em atividade. O sentido de um fim é seu 11º- livro, e também o que lhe valeu o prestigioso Man Booker Prize em 2011. A Rocco publica sua obra no Brasil.
Quando você começa a esquecer as coisas — não estou falando de Alzheimer, só da consequência previsível do envelhecimento — há maneiras diferentes de reagir. Você pode parar tudo e ficar tentando forçar sua memória a fornecer o nome daquele conhecido, flor, estação de trem, astronauta… Ou você admite o fracasso e toma medidas práticas como consultar uma enciclopédia e a internet. Ou você pode simplesmente deixar para lá — esquecer de lembrar — e então às vezes você percebe que o fato esquecido volta à superfície uma hora ou um dia depois, normalmente durante aquelas longas noites em claro que a idade impõe. Bem, nós todos aprendemos isso, aqueles de nós que esquecem coisas. Mas aprendemos também uma outra coisa: que o cérebro não gosta de ser tipificado. Quando você acha que tudo é uma questão de decréscimo, de subtração e divisão, o seu cérebro, a sua memória, podem surpreender você. Como se estivessem dizendo: não imagine que você pode confiar em algum processo confortável de declínio gradual — a vida é muito mais complicada do que isso. E então o cérebro atira migalhas para você de vez em quando, e até desata aqueles famosos nós da memória. Foi
Às vezes eu acho que o objetivo da vida é nos reconciliar com sua perda irremediável vencendo nossas resistências, provando, por mais tempo que isto leve, que a vida não é tudo que tem a reputação de ser.
Mas por que deveríamos esperar que a idade nos abrandasse? Se não cabe à vida recompensar o mérito, por que caberia a ela proporcionar-nos sentimentos ternos e confortadores perto do seu final? A que propósito evolucionário a nostalgia poderia servir?
Eu descobri que esta pode ser uma das diferenças entre a juventude e a velhice: quando somos jovens, inventamos diferentes futuros para nós mesmos; quando somos velhos, inventamos diferentes passados para os outros.
E pensei numa onda se erguendo, banhada pela lua, descendo e desaparecendo corrente acima, perseguida por um bando de estudantes barulhentos cujas lanternas faziam zigue-zagues na escuridão. Existe acumulação. Existe responsabilidade. E além de tudo isso, existe inquietude. Existe grande inquietude.