Este pequeno livro de conselhos completa um outro, “A Nova Arte de Pensar”. O seu propósito é semelhante: nasceu de um mesmo sentimento de profunda amizade pelos estudantes, sobretudo por aqueles que sofrem dos males causados pela desorganização e pela solidão. Ele tem por objetivo ajudá-los no seu trabalho; aspiraria, pois, a libertá-los de toda e qualquer impressão de inferioridade ou de angústia.
Mas também este livro dirige-se a todos aqueles que, apesar da barafunda da vida moderna, não renunciaram ainda a ler, a escrever, a pensar. E sem esquecer os já formados — dado que, no que diz respeito ao conhecimento, ao estilo e à linguagem todos nós somos aprendizes; e, como dizia Goethe, é bom que se aprenda a fazer a coisa mais insignificante da maneira mais grandiosa.
É fácil observar como é raro que um professor, na juventude do aluno, ensine-o a trabalhar. Indica-lhe, o professor, um enunciado do exercício; aprecia, valoriza os seus trabalhos; e vez ou outra — e cada vez menos, à medida em que o saber aumenta — propõe-lhe certas correções, aponta-lhe, num modelo criado pelo próprio professor, o que teria convido fazer. Mas quanto à maneira como ele fez, sobre isso ele pouco ou nada lhe diz; a aprendizagem é deixada à mercê do acaso ou da inspiração. É dessa inexperiência sobre a maneira como fazer que resulta, em grande parte, a impressão de desânimo que muitos retiram de seus estudos.
De resto, e sucessivamente em cada etapa da vida, é imperfeito o uso que fazemos de nossa energia mental. Tão abundante ela é, essa energia, que não nos passa pela cabeça preocuparmo-nos com o seu emprego! No entanto, com o mesmo esforço, se a aplicássemos melhor, obteríamos tanto mais benefício — quanto as nossas existências não ganhariam em suavidade e plenitude caso de nossa parte houvesse um pouco mais de arte e de paciência!
É verdade que a existência do “savoir-faire” é a bem dizer incomunicável, tendo cada um de arranhar-se em suas próprias silvas... Mas não me esqueço do auxílio que recebi, outrora, de obras que tratavam do método no trabalho, das quais recebi a inspiração que me levou a tentar completá-las escrevendo este livro.
Que o leitor não procure aqui por receitas extraordinárias. Eu apenas reavivo idéias simples que creio presentes nas mais antigas tradições da pedagogia de meu país. Por aí se verá como, seja qual for o assunto de que se trata, é necessário que o espírito aprenda a concentrar-se e a encontrar o seu ponto de aplicação; e como, para que amadureça, o espírito deve dar o tempo ao tempo, não se negando ao repouso e aos “intervalos” de descanso; e de como o espírito precisa se exprimir para se conhecer, já que conteúdo e forma não são separáveis (e é por isso que falarei sobre o estilo); e se verá, por fim, que não há estado onde o ato de pensar seja impossível (e é por isso que falarei sobre o trabalho do espírito nos estados de fadiga e de dor).
O que me guiou ao escrever um livro que espero útil foi o que recordo de turmas de aprendizes trabalhando no ateliê de um professor de desenho, que não procede como procedem os professores de Letras ou de Ciências e cujos métodos, em meu entender, têm mais valor que todos os cursos do mundo. De minha parte, eu teria preferido passar um único dia no ateliê de Barrès a seguir durante meses os cursos de licenciatura na Sorbonne.
E é por essa razão que — de acordo com a idéia de Descartes, que, antes de explicar o seu método, contou-nos a sua história — eu farei referência a algumas alturas da vida que me fizeram redescobrir as regras imutáveis da arte de trabalhar. No caso do leitor não estar disposto a passar por experiências semelhantes, é claro que esses conselhos não serão mais que poeira e cinza.
Devo dizer, em conclusão, que as regras que aqui são sugeridas não convirão, talvez, a todas as famílias do espírito. Não foi minha intenção ser completo, mas sim e unicamente fazer-me útil para aqueles a quem estas páginas são de antemão destinadas.
Mas também este livro dirige-se a todos aqueles que, apesar da barafunda da vida moderna, não renunciaram ainda a ler, a escrever, a pensar. E sem esquecer os já formados — dado que, no que diz respeito ao conhecimento, ao estilo e à linguagem todos nós somos aprendizes; e, como dizia Goethe, é bom que se aprenda a fazer a coisa mais insignificante da maneira mais grandiosa.
É fácil observar como é raro que um professor, na juventude do aluno, ensine-o a trabalhar. Indica-lhe, o professor, um enunciado do exercício; aprecia, valoriza os seus trabalhos; e vez ou outra — e cada vez menos, à medida em que o saber aumenta — propõe-lhe certas correções, aponta-lhe, num modelo criado pelo próprio professor, o que teria convido fazer. Mas quanto à maneira como ele fez, sobre isso ele pouco ou nada lhe diz; a aprendizagem é deixada à mercê do acaso ou da inspiração. É dessa inexperiência sobre a maneira como fazer que resulta, em grande parte, a impressão de desânimo que muitos retiram de seus estudos.
De resto, e sucessivamente em cada etapa da vida, é imperfeito o uso que fazemos de nossa energia mental. Tão abundante ela é, essa energia, que não nos passa pela cabeça preocuparmo-nos com o seu emprego! No entanto, com o mesmo esforço, se a aplicássemos melhor, obteríamos tanto mais benefício — quanto as nossas existências não ganhariam em suavidade e plenitude caso de nossa parte houvesse um pouco mais de arte e de paciência!
É verdade que a existência do “savoir-faire” é a bem dizer incomunicável, tendo cada um de arranhar-se em suas próprias silvas... Mas não me esqueço do auxílio que recebi, outrora, de obras que tratavam do método no trabalho, das quais recebi a inspiração que me levou a tentar completá-las escrevendo este livro.
Que o leitor não procure aqui por receitas extraordinárias. Eu apenas reavivo idéias simples que creio presentes nas mais antigas tradições da pedagogia de meu país. Por aí se verá como, seja qual for o assunto de que se trata, é necessário que o espírito aprenda a concentrar-se e a encontrar o seu ponto de aplicação; e como, para que amadureça, o espírito deve dar o tempo ao tempo, não se negando ao repouso e aos “intervalos” de descanso; e de como o espírito precisa se exprimir para se conhecer, já que conteúdo e forma não são separáveis (e é por isso que falarei sobre o estilo); e se verá, por fim, que não há estado onde o ato de pensar seja impossível (e é por isso que falarei sobre o trabalho do espírito nos estados de fadiga e de dor).
O que me guiou ao escrever um livro que espero útil foi o que recordo de turmas de aprendizes trabalhando no ateliê de um professor de desenho, que não procede como procedem os professores de Letras ou de Ciências e cujos métodos, em meu entender, têm mais valor que todos os cursos do mundo. De minha parte, eu teria preferido passar um único dia no ateliê de Barrès a seguir durante meses os cursos de licenciatura na Sorbonne.
E é por essa razão que — de acordo com a idéia de Descartes, que, antes de explicar o seu método, contou-nos a sua história — eu farei referência a algumas alturas da vida que me fizeram redescobrir as regras imutáveis da arte de trabalhar. No caso do leitor não estar disposto a passar por experiências semelhantes, é claro que esses conselhos não serão mais que poeira e cinza.
Devo dizer, em conclusão, que as regras que aqui são sugeridas não convirão, talvez, a todas as famílias do espírito. Não foi minha intenção ser completo, mas sim e unicamente fazer-me útil para aqueles a quem estas páginas são de antemão destinadas.