?Caio explora de forma consciente e deliberada as conexões e os atritos entre a linguagem audiovisual e a escrita, servindo-se das experiências mais fecundas de uma e de outra para ampliar seu instrumental expressivo e aproximar-se do coração selvagem da vida.?
? JOSÉ GERALDO COUTO
?Representante literário de uma geração que, de um lado, protagonizou uma das maiores revoluções comportamentais do século e, de outro, viveu sob a repressão da ditadura militar, Caio mescla cultura pop, erotismo, drogas e violência urbana em sua obra.?
? O GLOBO, 28/9/1994
"Nada, nada além, Márcia repetia, quase sem se mover, afastando-se do poste apenas para abaixar-se, estendendo dramaticamente a mão para a frente, erguendo para o alto o rosto desfigurado pelos filtros mortiços das luzes. Fechando os olhos, vi novamente aquela poltrona verde. E mais nada, nada além, até começar a lembrar dos mesmos versos cantados por outra voz. Uma voz de mulher, antiga, densa, pesada.?
Publicado pela primeira vez em 1990, Onde andará Dulce Veiga? é a segunda incursão de Caio Fernando Abreu pelo gênero romance. No entanto, em vez de diluir a potência narrativa desenvolvida na criação dos contos, Caio concentra ainda mais suas forças, fazendo dela uma obra explosiva.
A sexualidade à flor da pele dos personagens alia-se à aguda percepção das motivações essenciais que os animam. No fundo, mais importante talvez do que saber onde andará é saber quem é Dulce Veiga.
Tendo a redação jornalística como coadjuvante e a música popular dos anos 1980 como pano de fundo, esta ficção-verdade desvenda o desejo reprimido e o tesão liberado, a convivência com um mundo opressivo e as maneiras de fugir (ou, pelo menos, tentar escapar) dele.
Onde andará Dulce Veiga? também foi levado às telas, sob a direção de Guilherme de Almeida Prado, em 2008.
A reprodução de trechos de cartas a amigos sobre a criação do livro completa esta edição do expressivo romance de Caio Fernando Abreu.