Salman Rushdie é um espectador privilegiado da vida contemporânea. Equilibrista habituado à corda bamba entre dois mundos que parecem mais distantes entre si no tempo que no espaço (o Oriente e o Ocidente), lança sobre cada um deles um olhar enviesado - ou excêntrico, no sentido exato do termo. É esse olhar que lhe permite ver e dar detalhes que a visada convencional deixa escapar. É assim, por exemplo, que as trajetórias de personagens emblemáticas da cultura ocidental, como Hamlet e Cristóvão Colombo, são reinventadas pelo autor de uma perspectiva absolutamente irônica e original: em "Yorick", a tragédia do príncipe da Dinamarca é contada do delirante ponto de vista do bobo da corte de seu pai; em "Cristóvão Colombo e rainha Isabel de Espanha consumam seu relacionamento", o descobridor da América e a soberana espanhola vivem um rumoroso caso com tintas levemente sadomasoquistas. Inversamente, "O cabelo do Profeta" transforma uma história de profanação do Islã num imbroglio melodramático de policial B norte-americano. Em "Tchekhov e Zulu", uma trama envolvendo espiões indianos em Londres entrelaça-se com a saga televisiva Jornada nas estrelas. Não há fronteiras para a fabulação de Salman Rushdie. Unindo a fantasia exuberante de um narrador das Mil e uma noites ao completo domínio das técnicas literárias modernas, os nove contos de Oriente, Ocidente são a prova definitiva de que se trata de um dos grandes escritores de nosso tempo.
Oriente, ocidente
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