A narrativa de peregrinos da fé, místicos pobres do sertão do nordeste, que, enfrentando as agruras da existência miserável, se voltam para a misericórdia transcendente da divindade, para a ideal Cidade de Deus, que curaria as pérfidas distorções da cidade dos homens, desvela algumas das questões mais profundas da história brasileira. Assim, a figura da beata Luzia, que se torna mártir, mas jamais atinge a santidade, é composta a partir de uma galeria de personagens, reais e fictícios, da formação do país. Simultaneamente ingênua e clarividente, misto de Antônio Conselheiro, Rasputin sertanejo, e Joana D´Arc, com ecos de São Bernardo, Vidas Secas, Grande Sertão: Veredas, Luzia encarna as contradições oriundas do drama cotidiano, da busca do pão, e do apelo ao divino, à ordem do sobrenatural.
Religião e política não são, portanto, discursos estanques, e o pecado e a corrupção ética mais chã se imiscuem em senhores e coronéis, numa ordem infernal em que a ausência de solidariedade, a busca exclusiva pelo ganho pessoal, para o qual se justifica toda sorte de artifícios e perversidades, dão o tom de um mundo pretérito, arcano, no qual o relógio do tempo da transformação política e da modernização democrática das relações pessoais parece estar partido, tonando-se, por isso mesmo, tristemente atual.
Se falar de sua aldeia é falar do mundo, como apontaria, com aguda percepção, Tolstói, Ricardo Ramos, fiel ao projeto regionalista, dá conta, ao tratar de tema tão brasileiro, de algumas das questões mais profundas da condição humana. Afinal, em sua obra, que reflete acerca dos descaminhos do sagrado e do profano, o autor se debruça, com a delicadeza do miniaturista que se notabilizou na arte do conto, sobre a análise dos dramas da alma brasileira. Que são aqueles mesmos de todos os homens.
Religião e política não são, portanto, discursos estanques, e o pecado e a corrupção ética mais chã se imiscuem em senhores e coronéis, numa ordem infernal em que a ausência de solidariedade, a busca exclusiva pelo ganho pessoal, para o qual se justifica toda sorte de artifícios e perversidades, dão o tom de um mundo pretérito, arcano, no qual o relógio do tempo da transformação política e da modernização democrática das relações pessoais parece estar partido, tonando-se, por isso mesmo, tristemente atual.
Se falar de sua aldeia é falar do mundo, como apontaria, com aguda percepção, Tolstói, Ricardo Ramos, fiel ao projeto regionalista, dá conta, ao tratar de tema tão brasileiro, de algumas das questões mais profundas da condição humana. Afinal, em sua obra, que reflete acerca dos descaminhos do sagrado e do profano, o autor se debruça, com a delicadeza do miniaturista que se notabilizou na arte do conto, sobre a análise dos dramas da alma brasileira. Que são aqueles mesmos de todos os homens.