"CAPÍTULO I
O ?CÉU COR-DE-ROSA?
NINGUÉM há na cidade do Rio de Janeiro, que não conheça perfeitamente o largo da Lapa do Desterro.
Sobretudo, ele se faz notável pelas missas, que de madrugada se dizem em seu pequeno convento; por suas belas festas do Espírito-Santo com seu império sempre cheio de oferendas, e seus grandes fogos de artifício; e enfim, pela multidão imensa de povo, e pelos carros, ônibus e gôndolas, que incessantemente por aí transitam, indo ou vindo desses bairros aristocráticos, que ficam além do cais da Glória.
E, como para compensar esse ruído constante e essa concorrência de que falamos, o largo da Lapa tem por vizinhas algumas ruas pequenas, mas bonitas, que se podem chamar solitárias em comparação dele.
No ano de 1846, porém, os habitantes de uma dessas ruas, de cujo nome agora não nos podemos ou não nos queremos lembrar, mas que será fácil conhecê-la pelo que dela dire¬mos, começaram a notar que ela se ia tornando muito freqüentada a certas horas do dia.
De tarde, quando já o sol não incomodava e a sombra e o frescor convidavam as moças a chegar à janela, viam-se passar primeira e segunda vez pela rua de... numerosos mancebos, que trajavam com elegância e gosto, e que por seus modos e ademãs mostravam pertencer ao círculo feliz, que atualmente se conhece pelo nome do ? bom-tom.
Deu isto muito que pensar aos sossegados habitantes da rua de.... até que finalmente certo dia um homem que ali morava, e que se chamava Jacó, apontando para uma casa, que ficava defronte da sua, disse em tom confidencial a al¬guns de seus vizinhos: ? a causa é aquilo.
Também Jacó era a pessoa mais capaz de descobrir qualquer mistério. Pelo sim, pelo não, diremos já, em duas pa¬lavras, quem era ele.
Jacó tinha sido escrivão, e apenas há três anos havendo perdido o seu lugar por motivos que ele a ninguém dizia, mas que o fizeram viver na cadeia durante alguns meses, re¬tirou-se do centro da cidade, onde habitava, e veio com sua mulher e uma escrava morar na rua de..."
O ?CÉU COR-DE-ROSA?
NINGUÉM há na cidade do Rio de Janeiro, que não conheça perfeitamente o largo da Lapa do Desterro.
Sobretudo, ele se faz notável pelas missas, que de madrugada se dizem em seu pequeno convento; por suas belas festas do Espírito-Santo com seu império sempre cheio de oferendas, e seus grandes fogos de artifício; e enfim, pela multidão imensa de povo, e pelos carros, ônibus e gôndolas, que incessantemente por aí transitam, indo ou vindo desses bairros aristocráticos, que ficam além do cais da Glória.
E, como para compensar esse ruído constante e essa concorrência de que falamos, o largo da Lapa tem por vizinhas algumas ruas pequenas, mas bonitas, que se podem chamar solitárias em comparação dele.
No ano de 1846, porém, os habitantes de uma dessas ruas, de cujo nome agora não nos podemos ou não nos queremos lembrar, mas que será fácil conhecê-la pelo que dela dire¬mos, começaram a notar que ela se ia tornando muito freqüentada a certas horas do dia.
De tarde, quando já o sol não incomodava e a sombra e o frescor convidavam as moças a chegar à janela, viam-se passar primeira e segunda vez pela rua de... numerosos mancebos, que trajavam com elegância e gosto, e que por seus modos e ademãs mostravam pertencer ao círculo feliz, que atualmente se conhece pelo nome do ? bom-tom.
Deu isto muito que pensar aos sossegados habitantes da rua de.... até que finalmente certo dia um homem que ali morava, e que se chamava Jacó, apontando para uma casa, que ficava defronte da sua, disse em tom confidencial a al¬guns de seus vizinhos: ? a causa é aquilo.
Também Jacó era a pessoa mais capaz de descobrir qualquer mistério. Pelo sim, pelo não, diremos já, em duas pa¬lavras, quem era ele.
Jacó tinha sido escrivão, e apenas há três anos havendo perdido o seu lugar por motivos que ele a ninguém dizia, mas que o fizeram viver na cadeia durante alguns meses, re¬tirou-se do centro da cidade, onde habitava, e veio com sua mulher e uma escrava morar na rua de..."