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    Os Franceses

    Por Ricardo Correa Coelho
    Existem 14 citações disponíveis para Os Franceses

    Sobre

    Terra de pães, queijos e vinhos maravilhosos, mas também de paradoxos, a França convive com imagens contraditórias a seu respeito. é verdade que os franceses fizeram a revolução da "liberdade, igualdade e fraternidade" - base da democracia moderna; sua História, contudo, registra discriminação contra diversas minorias. A excelência dos seus perfumes parece se contrapor à idéia de que o banho não passa de um mal esporadicamente necessário. Paris é a cidade mais visitada do mundo, mas seus habitantes parecem detestar turistas. O culto à comida é quase uma idolatria nacional, a manteiga é usada por toneladas, mas os franceses não engordam, nem têm altas taxas de colesterol. Quem são, afinal, esses franceses? Descendentes belicosos de Asterix, grosseirões bigodudos ou um povo refinado de degustadores de boa comida, boa bebida e cultura de alto nível? Neste livro sedutor, o cientista social Ricardo Corrêa Coelho desvenda o caráter, os valores, o modo de vida dos franceses e sua relação com seus vizinhos e visitantes. Leitura agradável e reveladora.
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    Citações de Os Franceses

    Os francos viriam a dar origem aos franceses, assim como os alamanos aos alemães (Alle Mdnner, isto é, povo de “todos os homens”).

    O gentílico “gaulês” foi reservado pela História aos povos que, entre o final do século iv a.C. e 51 d.C. (ano em que Roma ocupou, definitivamente, a Gália), habitavam o território que atualmente compreende a França, a Bélgica, o extremo oeste da Alemanha e o norte da Itália.

    Termas de Cluny, construídas no final do século ii em Lutécia, hoje Paris, e cujas ruínas são visíveis por quem passa no cruzamento do Boulevard Saint-Michel com o Boulevard Saint-Germain, no Quartier Latin.

    Quem conhece a França e os franceses percebe logo que essa propensão para a exaltação e altercação verbais dos gauleses ainda permanece viva nos franceses do nosso tempo, apesar dos muitos séculos transcorridos.

    Com a queda do Império Romano no Ocidente, a Gália Romana viria a ser invadida e ocupada pelos francos, um povo de origem germânica que vivia do outro lado do Reno e era considerado pelos romanos como povo bárbaro.

    Diferentemente de Madri, Buenos Aires e Nova York, onde as vias se cruzam em um ângulo de noventa graus, fazendo com que essas cidades, vistas do alto, pareçam com um tabuleiro de xadrez, a Paris redesenhada por Haussmann não tem sequer uma única rua perfeitamente paralela ou perpendicular a outra. É que o traçado urbano de Paris não foi inspirado pela matemática, com vias dispostas em abscissas e coordenadas, como em um gráfico, mas pela física. Os grandes eixos de circulação da cidade obedecem à lógica da propagação da luz, que tendo origem em uma estrela lança os seus raios em linhas retas e centrífugas ao infinito, os quaisacabarão por se cruzar com os raios de outras estrelas em ângulos sempre variáveis.

    A disputa entre franceses e ingleses girou, durante todo o século xix, em torno da supremacia política, militar e econômica sobre o mundo. Mas, com a emergência dos Estados Unidos como potência hegemônica incontestável após a Segunda Guerra, essa disputa acabou perdendo o sentido, passando, então, a ser em torno da influência cultural que as matrizes anglo-saxônica e francesa exerceriam sobre o mundo.Um dos campos em que a disputa dos franceses com os ingleses é mais renhida é no plano lingüístico. Durante longo tempo, o francês foi a língua das cortes e da diplomacia, e a irreversível perda de espaço para o inglês nas relações internacionais deixa os franceses furiosos. Nessa disputa, os belgas aparecem como traidores, pois não defenderam com o devido vigor a adoção do francês como principal língua de comunicação e negociação no seio da União Européia, que acabou adotando o inglês. Para os franceses, a adoção da sua língua na União Européia seria um contraponto mais do que justo ao domínio do inglês no mundo, uma vez que os seus órgãos executivo e legislativo têm sede em cidades francófonas: a Comissão Européia, em Bruxelas, e o Parlamento Europeu, em Estrasburgo.Mas o mais curioso é que a revolta dos franceses contra o avanço avassalador da língua inglesa no mundo é dirigida, sobretudo, contra os ingleses, e não contra os americanos, que são, na verdade, os grandes propagadores do idioma no mundo pósguerra, haja vista o seu indiscutível peso e predomínio nos organismos multilaterais, nas relações econômicas internacionais e na indústria cultural. Esse deslocamento de foco do protagonista para o coadjuvante só pode encontrar explicação na discreta, porém manifesta, admiração que os franceses têm pelos americanos. Parece-me que não seria demasiado arriscado afirmar que os franceses têm seus corações paradoxalmente divididos entre uma discreta americanofilia e uma franca anglofobia.

    Em nenhum país da Europa o feudalismo foi tão exacerbado quanto na França, com o poder político-territorial dividido entre diversos duques, condes e viscondes numa complexa rede de suserania e vassalagem dificilmente compreensível para o homem contemporâneo. Durante a Idade Média, a fragmentação do poder político na França era bem maior do que na Itália ou na Alemanha, países que vieram a se unificar muito tarde, em 1870 e 1871, respectivamente. Como resultado direto do apogeu e consequente decadência do feudalismo, a França também iria produzir o sistema oposto num grau que tampouco seria conhecido por outro país da Europa: o Absolutismo. Nenhuma monarquia europeia chegou a concentrar tantos poderes no rei, nem a desenvolver uma burocracia estatal tão poderosa quanto a francesa. A herança desses dois pontos extremos da história da França ainda se faz presente e está na origem do paradoxo – centralização política versus diversidade territorial.

    Por isso, mais que o personagem central da história europeia do século XIX, Napoleão se tornaria um mito, e os mitos, uma vez criados, passam a ter existência própria e independente de qualquer base factual.

    Os 96 departamentos em que o território metropolitano da França encontra-se atualmente dividido foram criados imediatamente após a Revolução e não guardam nenhum parentesco com as 34 províncias em que a França se subdividia durante o Antigo Regime. Contrariamente aos departamentos, que foram criados de forma artificial pelo governo revolucionário, as antigas províncias não resultaram da ação do Estado monárquico, mas surgiram e se consolidaram durante a Idade Média, tendo sua existência reconhecida pelo Estado absolutista. Era intenção dos revolucionários de 1789 romper, definitivamente, com essa tradição e memória, considerada incompatível com uma nação composta por cidadãos iguais.

    A artificialidade do francês contraposta à naturalidade do inglês – no sentido de que o primeiro foi propagado, desenvolvido e fixado pelos artifícios do Estado com a colaboração dos artistas e literatos, enquanto o segundo surgiu e evoluiu livre de qualquer controle estatal ou acadêmico – é que dá à língua francesa o charme e os ares de nobreza reconhecidos e admirados por todo o mundo. Por obra da Academia Francesa, a língua de Molière é praticamente a mesma falada atualmente na França, enquanto a língua de Shakespeare pouco tem a ver com a que é hoje falada nas ruas da Inglaterra. O inglês é uma língua muito maleável, que não para de evoluir, a ponto de obras da literatura inglesa, escritas há menos de um século, terem de ser adaptadas para o inglês moderno para serem republicadas. Já as fábulas de La Fontaine podem ser lidas no original pelas crianças das escolas francesas sem grande dificuldade. O inglês é uma língua de origem popular que demorou séculos para chegar à corte britânica e aos círculos literários. O francês, ao contrário, é uma língua aristocrática que foi cuidadosamente lapidada e popularizou-se há muito pouco tempo.

    Para manter baixas as taxas de desemprego na Grã-Bretanha, que um dia já foram tão elevadas quanto são na França, os trabalhistas ingleses admitiram sem grande constrangimento a vigência de “relações de trabalho mais flexíveis”, que lhes foram legadas pelo governo Thatcher.

    A conceituada revista britânica, The Economist, em uma edição do ano de 2006 contendo uma reportagem especial sobre a França, resumiu o desafio frente ao qual os franceses estariam confrontados nas eleições presidenciais do ano seguinte nestes termos: “A questão real não é se a França é reformável, pois a resposta tem de ser sim. É se existe uma madame Thatcher que tenha a coragem de enfrentar interesses poderosos”.3 Para a revista inglesa, os franceses teriam uma única alternativa para sair do marasmo e decadência em que se encontram imersos: seguir o caminho inglês. Essa segurança dos ingleses quanto à superioridade do seu modelo de desenvolvimento econômico e de inserção do país no mundo deixa os franceses furiosos.

    “Nas vitórias, porque merecido; nas derrotas, porque necessário”.

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