Os Franceses
Existem 14 citações disponíveis para Os FrancesesSobre
Talvez você seja redirecionado para outro site
Os francos viriam a dar origem aos franceses, assim como os alamanos aos alemães (Alle Mdnner, isto é, povo de “todos os homens”).
O gentílico “gaulês” foi reservado pela História aos povos que, entre o final do século iv a.C. e 51 d.C. (ano em que Roma ocupou, definitivamente, a Gália), habitavam o território que atualmente compreende a França, a Bélgica, o extremo oeste da Alemanha e o norte da Itália.
Termas de Cluny, construídas no final do século ii em Lutécia, hoje Paris, e cujas ruínas são visíveis por quem passa no cruzamento do Boulevard Saint-Michel com o Boulevard Saint-Germain, no Quartier Latin.
Quem conhece a França e os franceses percebe logo que essa propensão para a exaltação e altercação verbais dos gauleses ainda permanece viva nos franceses do nosso tempo, apesar dos muitos séculos transcorridos.
Com a queda do Império Romano no Ocidente, a Gália Romana viria a ser invadida e ocupada pelos francos, um povo de origem germânica que vivia do outro lado do Reno e era considerado pelos romanos como povo bárbaro.
Diferentemente de Madri, Buenos Aires e Nova York, onde as vias se cruzam em um ângulo de noventa graus, fazendo com que essas cidades, vistas do alto, pareçam com um tabuleiro de xadrez, a Paris redesenhada por Haussmann não tem sequer uma única rua perfeitamente paralela ou perpendicular a outra. É que o traçado urbano de Paris não foi inspirado pela matemática, com vias dispostas em abscissas e coordenadas, como em um gráfico, mas pela física. Os grandes eixos de circulação da cidade obedecem à lógica da propagação da luz, que tendo origem em uma estrela lança os seus raios em linhas retas e centrífugas ao infinito, os quaisacabarão por se cruzar com os raios de outras estrelas em ângulos sempre variáveis.
A disputa entre franceses e ingleses girou, durante todo o século xix, em torno da supremacia política, militar e econômica sobre o mundo. Mas, com a emergência dos Estados Unidos como potência hegemônica incontestável após a Segunda Guerra, essa disputa acabou perdendo o sentido, passando, então, a ser em torno da influência cultural que as matrizes anglo-saxônica e francesa exerceriam sobre o mundo.Um dos campos em que a disputa dos franceses com os ingleses é mais renhida é no plano lingüístico. Durante longo tempo, o francês foi a língua das cortes e da diplomacia, e a irreversível perda de espaço para o inglês nas relações internacionais deixa os franceses furiosos. Nessa disputa, os belgas aparecem como traidores, pois não defenderam com o devido vigor a adoção do francês como principal língua de comunicação e negociação no seio da União Européia, que acabou adotando o inglês. Para os franceses, a adoção da sua língua na União Européia seria um contraponto mais do que justo ao domínio do inglês no mundo, uma vez que os seus órgãos executivo e legislativo têm sede em cidades francófonas: a Comissão Européia, em Bruxelas, e o Parlamento Europeu, em Estrasburgo.Mas o mais curioso é que a revolta dos franceses contra o avanço avassalador da língua inglesa no mundo é dirigida, sobretudo, contra os ingleses, e não contra os americanos, que são, na verdade, os grandes propagadores do idioma no mundo pósguerra, haja vista o seu indiscutível peso e predomínio nos organismos multilaterais, nas relações econômicas internacionais e na indústria cultural. Esse deslocamento de foco do protagonista para o coadjuvante só pode encontrar explicação na discreta, porém manifesta, admiração que os franceses têm pelos americanos. Parece-me que não seria demasiado arriscado afirmar que os franceses têm seus corações paradoxalmente divididos entre uma discreta americanofilia e uma franca anglofobia.
Em nenhum país da Europa o feudalismo foi tão exacerbado quanto na França, com o poder político-territorial dividido entre diversos duques, condes e viscondes numa complexa rede de suserania e vassalagem dificilmente compreensível para o homem contemporâneo. Durante a Idade Média, a fragmentação do poder político na França era bem maior do que na Itália ou na Alemanha, países que vieram a se unificar muito tarde, em 1870 e 1871, respectivamente. Como resultado direto do apogeu e consequente decadência do feudalismo, a França também iria produzir o sistema oposto num grau que tampouco seria conhecido por outro país da Europa: o Absolutismo. Nenhuma monarquia europeia chegou a concentrar tantos poderes no rei, nem a desenvolver uma burocracia estatal tão poderosa quanto a francesa. A herança desses dois pontos extremos da história da França ainda se faz presente e está na origem do paradoxo – centralização política versus diversidade territorial.
Por isso, mais que o personagem central da história europeia do século XIX, Napoleão se tornaria um mito, e os mitos, uma vez criados, passam a ter existência própria e independente de qualquer base factual.
Os 96 departamentos em que o território metropolitano da França encontra-se atualmente dividido foram criados imediatamente após a Revolução e não guardam nenhum parentesco com as 34 províncias em que a França se subdividia durante o Antigo Regime. Contrariamente aos departamentos, que foram criados de forma artificial pelo governo revolucionário, as antigas províncias não resultaram da ação do Estado monárquico, mas surgiram e se consolidaram durante a Idade Média, tendo sua existência reconhecida pelo Estado absolutista. Era intenção dos revolucionários de 1789 romper, definitivamente, com essa tradição e memória, considerada incompatível com uma nação composta por cidadãos iguais.
A artificialidade do francês contraposta à naturalidade do inglês – no sentido de que o primeiro foi propagado, desenvolvido e fixado pelos artifícios do Estado com a colaboração dos artistas e literatos, enquanto o segundo surgiu e evoluiu livre de qualquer controle estatal ou acadêmico – é que dá à língua francesa o charme e os ares de nobreza reconhecidos e admirados por todo o mundo. Por obra da Academia Francesa, a língua de Molière é praticamente a mesma falada atualmente na França, enquanto a língua de Shakespeare pouco tem a ver com a que é hoje falada nas ruas da Inglaterra. O inglês é uma língua muito maleável, que não para de evoluir, a ponto de obras da literatura inglesa, escritas há menos de um século, terem de ser adaptadas para o inglês moderno para serem republicadas. Já as fábulas de La Fontaine podem ser lidas no original pelas crianças das escolas francesas sem grande dificuldade. O inglês é uma língua de origem popular que demorou séculos para chegar à corte britânica e aos círculos literários. O francês, ao contrário, é uma língua aristocrática que foi cuidadosamente lapidada e popularizou-se há muito pouco tempo.
Para manter baixas as taxas de desemprego na Grã-Bretanha, que um dia já foram tão elevadas quanto são na França, os trabalhistas ingleses admitiram sem grande constrangimento a vigência de “relações de trabalho mais flexíveis”, que lhes foram legadas pelo governo Thatcher.
A conceituada revista britânica, The Economist, em uma edição do ano de 2006 contendo uma reportagem especial sobre a França, resumiu o desafio frente ao qual os franceses estariam confrontados nas eleições presidenciais do ano seguinte nestes termos: “A questão real não é se a França é reformável, pois a resposta tem de ser sim. É se existe uma madame Thatcher que tenha a coragem de enfrentar interesses poderosos”.3 Para a revista inglesa, os franceses teriam uma única alternativa para sair do marasmo e decadência em que se encontram imersos: seguir o caminho inglês. Essa segurança dos ingleses quanto à superioridade do seu modelo de desenvolvimento econômico e de inserção do país no mundo deixa os franceses furiosos.
“Nas vitórias, porque merecido; nas derrotas, porque necessário”.