Quando o homem chega às últimas extremidades, chega ao mesmo tempo aos últimos recursos. Desgraçados dos entes sem defesa que o cercam! O trabalho, o salário, o pão, o lume, o ânimo, a boa vontade, tudo lhe falta ao mesmo tempo. A luz moral apaga-se no interior; no meio destas sombras encontra o homem a fraqueza da mulher e a da criança, e amolda-as violentamente às ignomínias. Então todos os horrores se tornam possíveis. O desespero é rodeado por frágeis tabiques, que dão todos para o vício ou para o crime. A saúde, a mocidade, a honra, as santas e severas delicadezas da carne ainda nova, o coração, a virgindade, o pudor, essa epiderme da alma, são sinistramente manejados pela apalpadela que busca recursos, que encontra o opróbrio e que acomoda com ele. Pais, mães, filhos, irmãos, irmãs, homens, mulheres, raparigas, aderem e agregam-se quase como uma formação mineral, nesta nebulosa promiscuidade de sexos, de parentescos, de idades, de infâmias e de inocências. Agacham-se, encostados uns aos outros, numa espécie de destino-pocilga. É lentamente o modo porque se olham reciprocamente Desventurados! Como estão pálidos! Como tremem de frio! Parece que habitam em planeta muito mais distante do Sol do que nós.