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Os Possessos

Name: Os Possessos
Author: Fiódor Dostoiévski

Por Fiódor Dostoiévski

Existem 12 citações disponíveis para Os Possessos

Sobre

Publicado em 1872, «Os Possessos» é um romance de cariz político inspirado na história verdadeira de um assassinato que chocou a Rússia. Em 1869, um grupo de reformadores liberais, mais conhecidos por niilistas, assassinou um elemento do seu próprio grupo no meio de uma conspiração contra o czar. Dostoiévski parte do assassinato e do julgamento que se lhe seguiu para construir a sua obra, que funciona também como um manifesto contra a ideologia materialista que, segundo ele, estava a contaminar a sua pátria. O resultado é uma obra-prima profética ambientada na Rússia pré-Revolução, que antevê o pesadelo estalinista.

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Ficção e Literatura

O casamento é a morte moral de toda a alma altiva, de toda a independência.

Nos momentos de crise vê-se surgir das profundidades sociais uma espécie de indivíduos que nem têm objetivo, nem ideias de espécie alguma, e se distinguem apenas pelo seu amor à desordem.

Para condescender com a nova geração concordou que a religião era um mal e a ideia de pátria um absurdo ridículo.

corri, como é natural, a abraçá-la e, à segunda palavra que me disse, exclamou: «Deus não existe!» Se ainda fosse a terceira! Mas não, foi a segunda. A língua estava impaciente por desabafar! «Sim», disse-lhe, «admito que os homens inteligentes não creiam, isto devido à sua inteligência, mas tu, cabeça oca, que compreendes acerca da existência de Deus?… Repetes o que um estudante te disse; se te tivesse dito para acenderes uma lâmpada diante de qualquer imagem de santo, acendê-la-ias». — O senhor mente sempre. É um homem detestável e ainda agora lhe demonstrei perentoriamente a sua falta de razão — respondeu a estudante em tom desdenhoso, como se achasse indigno de si entrar em longas explicações com semelhante interlocutor. — Já lhe disse, sem sombra de dúvida, que pelo catecismo ensinaram-nos a todos isto: «Se honrares o teu pai e os teus parentes, viverás muito tempo e a felicidade ser-te-á dada». Isto está nos dez mandamentos. Se Deus julgou necessário prometer ao amor filial uma recompensa, Deus é imoral. Eis em poucas palavras o que lhe disse há pouco e não foi a minha segunda palavra; foi o senhor que, falando dos seus direitos, me levou a empregar essa linguagem. De quem é a culpa, se o senhor está calado e não compreende ainda? Isto vexa-os e incomoda-os, mas são as palavras da sua geração. — Estúpida! — proferiu a major. — E o senhor é um imbecil. — Ah, agora injuria-me! — Permita-me, capitão Maximovitch, que lhe lembre que foi o senhor mesmo que me disse não crer em Deus — gritou do fundo da mesa Lipoutine. — Que importa que tenha dito isso? Eu, é outra coisa! Talvez creia, no entanto a minha fé não é completa. Porém, ainda que não creia por completo, não digo que seja preciso fuzilar Deus. Já quando servia nos hussardos esta questão me preocupava imenso. É admitido por todos os poetas que o hussardo é bêbado e estroina. Pelo que me diz respeito, não fiz talvez mentir a lenda; mas, creiam, levantava-me de noite e ia ajoelh

«Tenho notado» — observou-me ele um dia — «que todos os socialistas fanáticos, todos os comunistas arreigados são, ao mesmo tempo, os indivíduos mais avaros e os proprietários mais tenazes em enceleirar; talvez mesmo se possa afirmar que, quanto mais um homem é socialista, mais deseja possuir.

Quase sempre essa malta sobe sem se saber como, impulsionada pelo pequeno grupo dos «avançados», os quais fazem deles o que querem, a não ser que eles próprios sejam perfeitos idiotas, o que, de resto, acontece muitas vezes.

Hoje os homens inteligentes calam-se, em lugar de tagarelarem.

Há na esmola qualquer coisa que deprava para sempre!

«Tenho notado» — observou-me ele um dia — «que todos os socialistas fanáticos, todos os comunistas arreigados são, ao mesmo tempo, os indivíduos mais avaros e os proprietários mais tenazes em enceleirar; talvez mesmo se possa afirmar que, quanto mais um homem é socialista, mais deseja possuir. De onde vem isto? Será ainda uma consequência do sentimentalismo?» Ignoro se estas observações são justas.

Sacudi tudo quanto está velho, tudo quanto requer uma reforma, mas, quando for preciso, reter-vos-emos nos limites necessários, porque, sem nós, não fareis mais do que arrasar a Rússia. Com penetra-te desta ideia: temos necessidade uns dos outros. Na Inglaterra, os socialistas e os conservadores contrabalançam-se. Pois bem, nós somos os conservadores e vós os socialistas, é assim que eu compreendo a questão.

A liberdade completa só existirá quando nos for indiferente viver ou morrer. Eis a finalidade a atingir!

O simples pensamento de que existe um ser infinitamente mais justo, infinitamente mais feliz do que eu, enche-me por completo de ternura imensa e, embora tenha feito o que fiz, essa lembrança enche-me de glória! A própria felicidade é para o homem uma necessidade muito menor do que saber acreditar a todo o instante que há noutro mundo uma felicidade perfeita e calma, para todos e para tudo. Toda a lei da existência humana consiste em nos podermos inclinar diante do que é infinitamente grande. Tirai aos homens a grandeza infinita e deixarão de viver, e morrerão no desespero. O imenso, o infinito, é tão necessário ao homem como o pequeno planeta em que vive. Meus amigos, digam todos comigo: «Viva o Grande Pensamento! O imenso, o eterno Pensamento!» Todo o homem, seja qual for, tem necessidade de se inclinar diante dele.