Peter Pan: edição comentada (Clássicos Zahar)
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Por não ter memória, Peter vive tudo como se fosse pela primeira vez, sempre com a mesma idade. Tudo é sempre um grande início, uma aventura inaugural. Mas a verdade é que Peter nunca consegue ganhar experiência, não muda, não se transforma.
Peter Pan não precisa fazer escolhas. Pode seguir com sua vida na floresta, com sua eterna leveza, pode continuar se negando a crescer, sem nunca se sentir perseguido por nenhum tipo de tic-tac.
Sabe, Wendy, quando o primeiro bebê riu pela primeira vez, o riso dele quebrou em milhares de pedaços e todos eles saíram pulando, e esse foi o começo das fadas.
E sabendo que elas podem morrer se não acreditarmos nelas, quem faria a bobagem de dizer que não acredita em fadas? As crianças sabem de tanta coisa hoje em dia que logo param de acreditar nas fadas. E toda vez que uma criança diz “Eu não acredito em fadas”, uma fada cai morta em algum lugar.
Sininho não era de todo má; ou melhor, ela era toda má agora, mas, por outro lado, às vezes era toda boa. As fadas têm que ser ou uma coisa, ou outra, pois, como são tão pequenas, infelizmente só têm espaço para um sentimento de cada vez. Elas podem mudar, no entanto tem que ser uma mudança completa.
De todas as ilhas deliciosas que existem, a Terra do Nunca é a mais aconchegante e compacta; não é grande e espalhada, sabe?, com aquelas distâncias chatas entre uma aventura e outra. É bem apertadinha. Quando você brinca nela durante o dia, usando as cadeiras e a toalha da mesa, ela não é nem um pouco assustadora. Mas, nos dois minutos antes de você ir dormir, ela fica quase, quase real. É por isso que a gente sempre deixa uma luzinha acesa no quarto durante a noite.
– Você tem que pensar em coisas boas e lindas – explicou Peter –, e elas suspendem você no ar.
As crianças sabem de tanta coisa hoje em dia que logo param de acreditar nas fadas. E toda vez que uma criança diz “Eu não acredito em fadas”, uma fada cai morta em algum lugar.
– Sabe, Wendy, quando o primeiro bebê riu pela primeira vez, o riso dele quebrou em milhares de pedaços e todos eles saíram pulando, e esse foi o começo das fadas.
Sininho não era de todo má; ou melhor, ela era toda má agora, mas, por outro lado, às vezes era toda boa. As fadas têm que ser ou uma coisa, ou outra, pois, como são tão pequenas, infelizmente só têm espaço para um sentimento de cada vez. Elas
O crocodilo, como todos que viram escravos de uma ideia fixa, não passava de um burro.
Peter ficou atordoado não por causa da dor, mas por causa da injustiça. Aquilo o deixou completamente indefeso. Ele só conseguiu olhar para Gancho, horrorizado. Toda criança se sente assim da primeira vez que é tratada com injustiça. Quando a criança se aproxima de você, querendo se entregar a você, a única coisa que ela pensa que merece é um tratamento justo. Depois que você for injusto com ela, ela vai voltar a amá-lo, mas nunca mais vai voltar a ser a mesma criança. Ninguém
É claro que todos os meninos foram para a escola. A maioria entrou na quarta série, mas Magrelo entrou na terceira e depois foi passado para a segunda. Menos de uma semana depois, eles viram que tinham sido uns burros de não ter ficado na ilha. Mas agora era tarde demais, portanto eles se conformaram em ser tão normais quanto eu, você ou qualquer zé-ninguém. É triste contar isso, mas aos poucos eles foram perdendo a habilidade de voar. No início, Naná amarrava seus pés nas colunas das camas para que eles não saíssem voando no meio da noite; e, durante o dia, uma de suas brincadeiras era fingir que estavam caindo de dentro dos ônibus em movimento. Mas, com o tempo, eles pararam de puxar as amarras que os prendiam nas camas, e descobriram que se machucavam quando caíam do ônibus. Chegou ao ponto em que não conseguiam mais sair voando nem para pegar chapéus levados pelo vento. Eles disseram que era falta de prática; mas a verdade é que não acreditavam mais.
É que quando um bebê ri pela primeira vez, nasce uma fada nova, e como sempre vão surgindo mais bebês, sempre vão surgindo mais fadas. Elas moram em ninhos nas copas das árvores. As roxas são meninos, as brancas são meninas e as azuis são bobinhas que não sabem o que são.