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    Poemas

    Por Wislawa Szymborska
    Existem 12 citações disponíveis para Poemas

    Sobre

    Aos 88 anos, Wislawa Szymborska vive desde menina em Cracóvia, cidade situada às margens do Vístula, no sul da Polônia. O fato de ter permanecido a vida inteira no mesmo lugar diz muito sobre essa poeta conhecida por sua reserva e extrema timidez. Contudo, embora os fatos de sua vida tenham permanecido privados, quase secretos, seus poemas viajam pelo mundo. Não são tantos: sua obra inteira consiste em cerca de 250 poemas cuja função, como declarou a poeta no discurso de Oslo, é perguntar, buscar o sentido das coisas.

    Com sua poesia indagadora, Szymborska foi chamada ?poeta filosófica?, ou ?poeta da consciência do ser?. No Brasil, teve poemas esparsos publicados em jornais e revistas ao longo dos anos, mas esta edição da Companhia das Letras, com seleção, introdução e tradução de Regina Przybycien, é a primeira oportunidade que tem o leitor brasileiro de lê-la em português. A coletânea de 44 poemas é uma belíssima apresentação à obra dessa importante poeta contemporânea.

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    Citações de Poemas

    Fazer perguntas, colocar como hipótese outras formas de ser, de ver e de sentir, provoca um estranhamento nas nossas visões de mundo já consolidadas.

    mas todos mostram uma profunda consciência da falência de uma concepção evolucionista da história, na qual a humanidade, movida pela razão e pelo progresso, caminharia para estágios cada vez mais avançados de civilização. Testemunhas das barbáries do século, esses poetas refletem sombriamente, muitas vezes ironicamente, sobre a condição humana.

    Sempre encaro a seriedade excessiva como algo meio ridículo. […] No poema tento conseguir o efeito que na pintura se chama chiaroscuro. Gostaria que o poema contivesse o sublime e o trivial, as coisas tristes e cômicas — lado a lado, misturadas.

    As três palavras mais estranhas Quando pronuncio a palavra Futuro, a primeira sílaba já se perde no passado.   Quando pronuncio a palavra Silêncio, suprimo-o.   Quando pronuncio a palavra Nada, crio algo que não cabe em nenhum não ser.

    Nuvens Para descrever as nuvens eu necessitaria ser muito rápida — numa fração de segundo deixam de ser estas, tornam-se outras.   É próprio delas não se repetir nunca nas formas, matizes, poses e composição.   Sem o peso de nenhuma lembrança flutuam sem esforço sobre os fatos.   Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa — logo se dispersam para todos os lados.   Comparada com as nuvens a vida parece muito sólida, quase perene, praticamente eterna.   Perante as nuvens até a pedra parece uma irmã em quem se pode confiar, já elas — são primas distantes e inconstantes.   Que as pessoas vivam, se quiserem, e em sequência que cada uma morra, as nuvens nada têm a ver com toda essa coisa muito estranha.   Sobre a tua vida inteira e a minha, ainda incompleta, elas passam pomposas como sempre passaram.   Não têm obrigação de conosco findar. Não precisam ser vistas para navegar.

    Amor à primeira vista Ambos estão certos de que uma paixão súbita os uniu. É bela essa certeza, mas é ainda mais bela a incerteza.   Acham que por não terem se encontrado antes nunca havia se passado nada entre eles. Mas e as ruas, escadas, corredores nos quais há muito talvez se tenham cruzado?   Queria lhes perguntar, se não se lembram — numa porta giratória talvez algum dia face a face? um “desculpe” em meio à multidão? uma voz que diz “é engano” ao telefone? — mas conheço a resposta. Não, não se lembram.   Muito os espantaria saber que já faz tempo o acaso brincava com eles.   Ainda não de todo preparado para se transformar no seu destino juntava-os e os separava barrava-lhes o caminho e abafando o riso sumia de cena.   Houve marcas, sinais, que importa se ilegíveis. Quem sabe três anos atrás ou terça-feira passada uma certa folhinha voou de um ombro ao outro? Algo foi perdido e recolhido. Quem sabe se não foi uma bola nos arbustos da infância?   Houve maçanetas e campainhas onde a seu tempo um toque se sobrepunha ao outro. As malas lado a lado no bagageiro. Quem sabe numa noite o mesmo sonho que logo ao despertar se esvaneceu.   Porque afinal cada começo é só continuação e o livro dos eventos está sempre aberto no meio.

    Repenso o mundo Repenso o mundo, segunda edição, segunda edição corrigida, aos idiotas o riso, aos tristes o pranto, aos carecas o pente, aos cães botas.   Eis um capítulo: A Fala dos Bichos e das Plantas, com um glossário próprio para cada espécie. Mesmo um simples bom-dia trocado com um peixe, a ti, ao peixe, a todos na vida fortalece.   Essa há muito pressentida, de súbito revelada, improvisação da mata. Essa épica das corujas! Esses aforismos do ouriço compostos quando imaginamos que, ora, está só adormecido!   O tempo (capítulo dois) tem direito de se meter em tudo, coisa boa ou má. Porém — ele que pulveriza montanhas remove oceanos e está presente na órbita das estrelas, não terá o menor poder sobre os amantes, tão nus tão abraçados, com o coração alvoroçado como um pardal na mão pousado.   A velhice é uma moral só na vida de um marginal. Ah, então todos são jovens! O sofrimento (capítulo três) não insulta o corpo. A morte chega com o sono.   E vais sonhar que nem é preciso respirar, que o silêncio sem ar não é uma música má, pequeno como uma fagulha, a um toque te apagarás.   Morrer, só assim. Dor mais dolorosa tiveste segurando nas mãos uma rosa e terror maior sentiste ao som de uma pétala caindo no chão.   O mundo, só assim. Só assim viver. E morrer só esse tanto. E todo o resto — é como Bach tocado por um instante num serrote.

    Possibilidades Prefiro o cinema. Prefiro os gatos. Prefiro os carvalhos sobre o Warta. Prefiro Dickens a Dostoiévski. Prefiro-me gostando das pessoas do que amando a humanidade. Prefiro ter agulha e linha à mão. Prefiro a cor verde. Prefiro não achar que a razão é culpada de tudo. Prefiro as exceções. Prefiro sair mais cedo. Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos. Prefiro as velhas ilustrações listradas. Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não escrevê-los. Prefiro, no amor, os aniversários não marcados, para celebrá-los todos os dias. Prefiro os moralistas que nada me prometem. Prefiro a bondade astuta à confiante demais. Prefiro a terra à paisana. Prefiro os países conquistados aos conquistadores. Prefiro guardar certa reserva. Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem. Prefiro os contos de Grimm às manchetes dos jornais. Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas. Prefiro os cães sem a cauda cortada. Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros. Prefiro as gavetas. Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui a muitas outras também não mencionadas. Prefiro os zeros soltos do que postos em fila para formar cifras. Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas. Prefiro bater na madeira. Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando. Prefiro ponderar a própria possibilidade do ser ter sua razão.

    Alguns gostam de poesia Alguns — ou seja nem todos. Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria. Sem contar a escola onde é obrigatório e os próprios poetas seriam talvez uns dois em mil.   Gostam — mas também se gosta de canja de galinha, gosta-se de galanteios e da cor azul, gosta-se de um xale velho, gosta-se de fazer o que se tem vontade gosta-se de afagar um cão.   De poesia — mas o que é isso, poesia. Muita resposta vaga já foi dada a essa pergunta. Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso como a uma tábua de salvação.

    O tempo (capítulo dois) tem direito de se meter em tudo, coisa boa ou má. Porém — ele que pulveriza montanhas remove oceanos e está presente na órbita das estrelas, não terá o menor poder sobre os amantes, tão nus tão abraçados, com o coração alvoroçado como um pardal na mão pousado.

    Entre muitos Sou quem sou. Inconcebível acaso como todos os acasos.   Fossem outros os meus antepassados e de outro ninho eu voaria ou de sob outro tronco coberta de escamas eu rastejaria.   No guarda-roupa da natureza há trajes de sobra. O traje da aranha, da gaivota, do rato do campo. Cada um cai como uma luva e é usado sem reclamar até se gastar.   Eu também não tive escolha mas não me queixo. Poderia ter sido alguém muito menos individual. Alguém do formigueiro, do cardume, zunindo no enxame, uma fatia de paisagem fustigada pelo vento.   Alguém muito menos feliz, criado para uso da pele, para a mesa da festa, algo que nada debaixo da lente.   Uma árvore presa à terra da qual se aproxima o fogo.   Uma palha esmagada pela marcha de inconcebíveis eventos.   Um sujeito com uma negra sina que para os outros se ilumina.   E se eu despertasse nas pessoas o medo, ou só aversão, ou só pena?   Se eu não tivesse nascido na tribo adequada e diante de mim se fechassem os caminhos?   A sorte até agora me tem sido favorável.   Poderia não me ser dada a lembrança dos bons momentos.   Poderia me ser tirada a propensão para comparações. Poderia ser eu mesma — mas sem o espanto, e isso significaria alguém totalmente diferente.

    Porque afinal cada começo é só continuação e o livro dos eventos está sempre aberto no meio.

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