Um dos principais pesquisadores da história do livro e da ilustração francesa revela o poder das redes de comunicação ainda no século XVIII
Na primavera de 1749, François Bonis, estudante de medicina em Paris, viu-se inesperadamente arrastado para a Bastilha por distribuir ?um poema abominável sobre o rei?. Assim teve início o caso dos Catorze, uma rigorosa operação policial contra cidadãos comuns, por terem promovido recitais de poesia sem autorização. Por que a reação oficial àqueles poemas foi tão drástica?
Em Poesia e polícia, o historiador Robert Darnton acompanha esses poemas populares à medida que passam por diversos meios de difusão: copiados em tiras de papel, ditados de uma pessoa para outra, memorizados e declamados para uma plateia. Conclui, porém, que a divulgação mais eficaz se dava por meio da música, quando os versos eram cantados em melodias bem conhecidas. As letras muitas vezes se referiam a fatos recentes ou revelavam atitudes populares a respeito da corte real.
Através da análise dessas canções - que constituem uma crônica das questões públicas da França oitocentista -, Darnton mostra, com brilhantismo, que as letras transmitiam mensagens pelas ruas de Paris durante um período de descontentamento crescente, formando assim uma complexa rede de comunicação, a qual permitia que a informação circulasse numa sociedade semiafalbetizada.
Com lucidez e muita verve narrativa, Darnton revela a importância dos intercâmbios orais na história da comunicação e também o poder das redes ?virais?, muito antes da era da internet.