Já faz mais de meio século que a História conheceu a sua chamada revolução documental. O historiador do século XX tomara consciência de que, sendo seu objeto de estudo o homem de sociedades diversas e de épocas anteriores (ou “o estudo do homem no tempo”, como dizia Lucien Febvre) poderia ser utilizado como fonte para o trabalho historiográfico qualquer vestígio deixado pelo homem, qualquer traço de sua presença ou qualquer registro de sua voz. Alguns tomaram como fontes as imagens, que até então só eram examinadas pelos historiadores da arte para uma análise do estilo; outros elegeram como fontes os objetos da cultura material. Estes passaram a investir nos depoimentos orais; aqueles tomaram para fonte de estudo os hábitos, os gestos, a própria língua.
Os próprios textos, eternos companheiros dos historiadores como fontes históricas, invadiram com sua variedade o campo das possibilidades documentais do historiador: não se tratava mais de restringir a observação e a análise às fontes legislativas e administrativas, às chancelarias régias, às crônicas oficiais, aos textos clássicos, tal como tinham feito por mais de um século os historiadores positivistas. Agora, literalmente qualquer texto poderia ser constituído como fonte histórica pelo historiador: desde o diário de uma jovem desconhecida aos inquéritos policiais relativos a um crime aparentemente sem importância histórica, desde uma grande obra literária até uma peça da literatura de cordel; desde as atas de um grêmio recreativo até uma simples receita de bolo. Onde o homem deixara a marca de seu discurso, ali seria legítimo ao historiador moderno buscar as fontes de seu estudo.
Poesia Trovadoresca e História
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