Estabelecida por este modo a Poesia nas Cidades, começou esta, que não é mais que uma imitação da Natureza, a dividir-se em duas espécies: uma, que tinha por objeto o imitar a vida do Campo, a que por isso se deu o nome de Poesia Pastoril; e outra, que se reduzia a tratar as ações, usos e costumes dos Cidadãos, a que para distinção podemos chamar Poesia Urbana. Teve e mereceu tanta aceitação esta primeira espécie de Poesia, talvez por ser um retrato daqueles primeiros Séculos, a que por suas delícias e inocência chamaram de Ouro, que os maiores homens de todas as Nações se empenharam em cultivá-la. Teócrito, Virgílio, Camões, Tasso, Garcilasso e Fontenelle dela fizeram as suas delícias. Escreveram estes grandes homens neste género com tanta suavidade e delicadeza, que a todos os que atentamente os leem, de tal sorte deleitam, transportam e arrebatam, que não há nenhum que de boa vontade não deseje sacrificar todas as suas fortunas só por se ver entre o sossego e delícias que a fantasia dos Poetas com tanta evidência lhe soube pintar.
Poesias – III (Poesias de António Dinis da Cruz e Silva Livro 3)
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