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    Por que a psicanálise?

    Por ROUDINESCO , ELISABETH
    Existem 11 citações disponíveis para Por que a psicanálise?

    Sobre

    Este ensaio - presente em várias listas de best-sellers da França - faz um balanço magistral dos cem anos da psicanálise e uma projeção de seu futuro no novo milênio. Na contracorrente do fascínio pela neurociência, fustiga uma sociedade em que o homem é levado a tratar suas neuroses a golpes de receitas médicas, atacando tanto as correntes cientificistas quanto as obscurantistas e charlatanescas.
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    Citações de Por que a psicanálise?

    O recurso sistemático ao círculo vicioso da causalidade externa — genes, neurônios, hormônios etc. — teve como conseqüência o deslocamento da psiquiatria dinâmica e sua substituição por um sistema comportamental em que subsistem apenas dois modelos explicativos: a organicidade, por um lado, portadora de uma universalidade simplista, e por outro, a diferença, portadora de um culturalismo empírico.

    Condenado ao esgotamento pela falta de uma perspectiva revolucionária, ele busca na droga ou na religiosidade, no higienismo ou no culto de um corpo perfeito o ideal de uma felicidade impossível:

    Diante do impulso da psicofarmacologia, a psiquiatria abandonou o modelo nosográfico em prol de uma classificação dos comportamentos. Em conseqüência disso, reduziu a psicoterapia a uma técnica de supressão dos sintomas. Daí a valorização empírica e ateórica dos tratamentos de emergência. O medicamento sempre atende, seja qual for a duração da receita, a uma situação de crise, a um estado sintomático.

    O sujeito freudiano é um sujeito livre, dotado de razão, mas cuja razão vacila no interior de si mesma. É de sua fala e seus atos, e não de sua consciência alienada, que pode surgir o horizonte de sua própria cura.

    No que concerne ao psiquismo, os sintomas não remetem a uma única doença e esta não é exatamente uma doença (no sentido somático), mas um estado. Por isso, a cura não é outra coisa senão uma transformação existencial do sujeito.

    Em lugar das paixões, a calmaria, em lugar do desejo, a ausência de desejo, em lugar do sujeito, o nada, e em lugar da história, o fim da história. O moderno profissional de saúde — psicólogo, psiquiatra, enfermeiro ou médico — já não tem tempo para se ocupar da longa duração do psiquismo, porque, na sociedade liberal depressiva, seu tempo é contado.

    Prólogo Este livro nasceu de uma constatação: perguntei a mim mesma por que, após cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise era tão violentamente atacada hoje em dia pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiriam as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma. Longe de contestar a utilidade dessas substâncias e de desprezar o conforto que elas trazem, pretendi mostrar que elas não podem curar o homem de seus sofrimentos psíquicos, sejam estes normais ou patológicos. A morte, as paixões, a sexualidade, a loucura, o inconsciente e a relação com o outro moldam a subjetividade de cada um, e nenhuma ciência digna desse nome jamais conseguirá pôr termo a isso, felizmente. A psicanálise atesta um avanço da civilização sobre a barbárie. Ela restaura a idéia de que o homem é livre por sua fala e de que seu destino não se restringe a seu ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química.

    se existe a banalidade do mal,14 como afirma Hannah Arendt, ela é a expressão não de um comportamento comum, mas de uma loucura assassina, cuja característica seria o excesso de normalidade. Nada é mais próximo da patologia do que o culto da normalidade levada ao extremo.

    “Os homens de hoje levaram tão longe o domínio das forças da natureza que, com a ajuda delas, tornou-se-lhes fácil exterminar uns aos outros, até o último. Eles o sabem muito bem, e é isso que explica boa parte de sua atual agitação, de sua infelicidade e de sua angústia.”

    O medicamento sempre atende, seja qual for a duração da receita, a uma situação de crise, a um estado sintomático. Quer se trate de angústia, agitação, melancolia ou simples ansiedade, é preciso, inicialmente, tratar o traço visível da doença, depois suprimi-lo e, por fim, evitar a investigação de sua causa de maneira a orientar o paciente para uma posição cada vez menos conflituosa e, portando, cada vez mais depressiva. Em lugar das paixões, a calmaria, em lugar do desejo, a ausência de desejo, em lugar do sujeito, o nada, e em lugar da história, o fim da história. O moderno profissional de saúde — psicólogo, psiquiatra, enfermeiro ou médico — já não tem tempo para se ocupar da longa duração do psiquismo, porque, na sociedade liberal depressiva, seu tempo é contado.

    Embora não haja uma ligação direta entre o desenvolvimento das ciências cognitivas e o desmantelamento dos quatro grandes modelos da psiquiatria dinâmica pelo DSM, foi em nome dos mesmos pressupostos que se efetuou, tanto de um lado quanto do outro e durante o mesmo período, a grande operação de limpeza que visou a erradicar da clínica e da reflexão universitária e médica o conjunto das teorias da subjetividade. E entre elas, a mais visada, evidentemente, foi a psicanálise, na medida em que a concepção freudiana do inconsciente era fundamentalmente incompatível com a nova mitologia cerebral.

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