Não há um só filósofo da Antiguidade que não tenha tomado o prazer e seu lugar na existência humana como um grande desafio, um enigma decisivo sobre o sentido da existência e do modo de vida ético. O prazer sempre foi naturalmente visto como promotor da eudaimonia ? palavra grega normalmente traduzida como ?felicidade?, mas cujo significado mais apropriado seria a ?plena realização do ser humano?.
Ora, o prazer não é objeto de reflexão preferencial em nosso mundo atual. Ele aparece como um dado, com um sentido óbvio e inquestionável, que se impõe por sua evidência. Vivemos em um mundo que provavelmente, ao contrário do que se costuma pensar, perdeu o contato com o prazer; não nos perguntamos mais sobre o que ele é, nem como ou por que devemos buscá-lo. Não somos hedonistas desenfreados: somos, inconscientemente, anti-hedonistas. E, como veremos neste livro, o que nossa sociedade chama de prazer é, na verdade, compulsão e voracidade.