"Me deixa olhar as suas mãos, me deixa olhá-las demoradamente, até que eu fixe na memória cada linha dessas que guardam o meu futuro, luminoso ou terrível, essas que vão cair sobre a minha cabeça como um afago ou um golpe, uma bênção ou uma punição. Me deixa ver os seus olhos, me deixa ver demoradamente o fundo desses dois poços onde dormem, lado a lado, como duas irmãs que não se conhecem, a minha e a sua alma; me deixa compará-los à água de uma fonte que nunca para de fluir, me deixa compará-los à água, ainda que eles só aumentem a minha sede. Me deixa olhar a sua boca, me deixa olhar demoradamente a sua boca ponte levadiça pra outra vida mais real (e bastaria um toque pra baixá-la), a sua boca cofre de todos os mistérios (e bastaria um sorriso pra que ela se abrisse), a sua boca pura véspera (e bastaria você fechar os olhos pra que o dia chegasse)".
Novela epistolar, diário fragmentário de um amor não correspondido, esta "educação sentimental" de um estudante que não leu Flaubert traz novos elementos à biografia fantasmagórica e lacunar de Aurélio Pinotti,
Novela epistolar, diário fragmentário de um amor não correspondido, esta "educação sentimental" de um estudante que não leu Flaubert traz novos elementos à biografia fantasmagórica e lacunar de Aurélio Pinotti,