Apesar da abundância de estudos produzidos nas últimas décadas, muitos deles de importância relevante, a questão da violência continua a ser um dos problemas mais complexos e mais esquivos do universo contemporâneo. Modos de definição demasiado estreitos - por exemplo, os que só vêm violência quando há agressão física - não apenas são manifestamente incapazes de captar a complexidade de processos muitas vezes difusos, ocultos na escala micro das relações quotidianas, como, mais do que isso, representam eles próprios uma forma de exercício da violência, pelo efeito de invisibilização que produzem. Só uma reflexão ampla e transdisciplinar poderá levar ao desenvolvimento de modelos teóricos e quadros de análise adequados a uma compreensão global dos processos de violência no mundo contemporâneo e, por outro lado, suscetíveis de fornecer os instrumentos indispensáveis a uma abordagem suficientemente atenta às especificidades contextuais. Uma tal reflexão obriga a equacionar o tema da violência em conjunto com conceitos centrais para a discussão contemporânea, como os de agressão, poder, autoridade, soberania, conflito, guerra, trauma, memória e representação. Os contributos para o presente volume debruçam-se, de perspetivas diferentes e a partir de contextos distintos, sobre alguns aspetos de uma questão que o universo da política, da cultura e das artes no século XX coloca com particular acuidade: no mundo contemporâneo, o problema da representação da violência tornou-se indissociável do problema da violência da representação. Sendo assim, o espaço do(s) discurso(s) torna-se ele próprio um espaço de negociação e de conflito, marcado por ambivalências que urge analisar na sua complexa especificidade.
Representações da Violência
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