Neste Sangue quente, nono livro de uma muito sólida carreira, Claudia Tajes torna a mostrar o quanto há de absolutamente sério e grave nas coisas engraçadas. Revelando a leveza graciosa do drama ? da raiva, melhor dito ?, nossa autora demonstra um domínio extraordinário do conto, incluídas as particularidades e sutilezas que o gênero demanda. São histórias cheias de ironia finíssima, construídas com uma linguagem simples e elegante; chega a parecer que escrever é fácil. E dá-lhe a denunciar desde os fiascos causados pela variação dos hormônios ao sentimento de culpa que só um belo ataque de raiva pode proporcionar. O ridículo humano escancarado.
Claro que quem conhece a Claudia sabe que, naqueles acessos de genuína modéstia que lhe são característicos, quase se desculpando por fazer os outros se divertirem, ela vai dizer que esse livro é mais um acidente de percurso do que, digamos, ?literatura séria?. O modus vivendi claudiano tem disso: de achar pouca coisa joias que qualquer autor adoraria assinar, de não dar a mínima para rapapés e de olhar o mundo de uma perspectiva oblíqua e quase absurda de tão verdadeira. Ela não se leva a sério exatamente por saber onde mora o perigo.
Nos toca a nós, leitores, receber com alegria esse novo livro. Mais uma vez temos o melhor ? e o mais bem-humorado ? da literatura brasileira em mãos. Coisa muito séria.