Como disse outro grande escritor, Bartolomeu Campos de Queirós: ?A memória é um lugar onde o vivido e o sonhado conversam.?
As memórias de Sylvia Orthof não ficam presas aos fatos acontecidos, ao pão-pão-quejo-queijo da realidade. Ela preenche o que esqueceu com toques de sua imaginação privilegiada. Ela comenta, critica, debocha de si mesma. A fantasia e o humor vestem os acontecimentos de sua infância e adolescência. Como ela mesma diz: ?A memória é um dos grandes mistérios.?
Quem conheceu Sylvia não cansa de repetir: ?Tem coisas que só acontecem com ela!? E coisas que acontecem com todo mundo, quando são com ela, são mais engraçadas. Até os episódios mais banais ganham colorido e graça com o humor ?orthófico?. Um baile com direito a ?chá de cadeira?, o primeiro beijo, o colégio e seus embates entre alunos e professores, guerra, separação dos pais, teatro, noite de autógrafos, carnaval: tudo fica mais vivo e borbulhante.
Sylvia espalhou suas memórias ? reais ou fantasiadas ? em vários outros livros. Procure conhecê-los.
No final deste, Sylvia diz que enjoou de escrever e resolve dar tchau pro leitor. Mas faz isso de forma arrebatada e derramada, como sempre: ?Na verdade, enquanto durou, adorei o papo. É gostoso ficar imaginando você, com este livro na mão. Como será o meu leitor ou leitora??
É isso. O texto de Sylvia Orthof é sempre um bom papo com o leitor. Aproveite.
Luiz Raul Machado