Sentinelas do horizonte é uma narrativa que destaca o (não) significado da existência do homem e da mulher no mundo contemporâneo. Semelhante à pintura famosa de Théodore Géricault intitulada A balsa da Medusa, de 1818, relembrando o evento trágico da fragata La Méduse, que naufragou no Atlântico dois anos antes, a narrativa de Galdino Cardin revela o turbulento micro-cosmo do mundo e as reações humanas (frequentemen-te, nada humanas) das pessoas que lá se encontram por acaso. Acotovelando-se fisicamente, esses distantes seres humanos, isolados uns dos outros, remoem sua vida passada, já que a esperança no futuro se esvaíra e o ?Deus? que esperam continua escondido. Encontram-se no espaço exíguo de uma jangada as experiências amorosas, desesperadoras ou esperançosas, de cada um, acopladas às expectativas de um futuro mais ameno e delicado, o qual, todavia, já nasceu morto. Embora a narrativa trate de pescadores brasileiros, os quais, alguns como passatempo, outros como trabalho, enfrentam o mistério do mar, percebe-se a condição humana da existência de cada um de nós diante do nada. O ho-rizonte, leque de possibilidades e potencialidades, é uma ilusão e dele não surge nenhuma salvação. Um após o outro, os seres da jangada, ou da balsa, ou do Brasil, ou do planeta Terra são arrastados para tomarem decisões que os levam somente ao fitar louco do horizonte. A responsabilidade é própria de cada ator no palco da vida. Ninguém o substitui, ninguém o faz de rogado, ninguém espera favores. Um microcosmo lúgubre onde se aprende a incluir o outro e tratá-lo como sujeito para que a vida possa ter algum sentido.
Thomas Bonnici
Professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá ? PR.
Thomas Bonnici
Professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá ? PR.
